domingo, 18 de setembro de 2011

Os limites da Ordem

Entre acreditar que o dinheiro media tudo e acreditar que se pode fazer tudo para obtê-lo há um passo muito menor do que se pensa. Os poderosos dão esse passo todos os dias sem que nada ocorra a eles. Os despossuídos, que pensam que podem fazer o mesmo, terminam nas prisões.

[Em Londres] Estamos frente a uma denúncia política violenta de um modelo social e político que tem recursos para resgatar os bancos, mas não para resgatar os jovens de uma vida de espera sem esperança, do pesadelo de uma educação cada vez mais cara e irrelevante dado o aumento do desemprego, do completo abandono em comunidades que as políticas públicas antissociais transformaram em campos de treinamento da raiva, da anomia e da rebelião.

In Boaventura Sousa Santos "Os Limites da Ordem" (ler o artigo completo aqui)

sábado, 17 de setembro de 2011

Um desejo...

Sonho, com o dia em que este poema será erguido bem alto nas ruas desta cidade








Anoréxia económica

Extinga-se! Extinga-se tudo! TUDO!!! até o que é útil e necessário! tudo, tudo!, TUDO!

Porque o que existe é só gordura, só gordura!, SÓ GORDURA!, E é preciso eliminá-la, desfazê-la, dissolvê-la, toda, toda!, TODA!, TODA A GORDURA! não pode ficar nem um pedaço, NEM UM PEDAÇO!! temos de ser magros, magros!, MAGROS! MUITO MAGROS!!

Não olhemos aos produtos que usamos, não há tempo, é preciso agir, agir! AGIR! juntemos todos os produtos emagrecedores que encontrarmos num copo e façamos deles um gigantesto cocktail emagrecedor! e bebamos, bebamos!, BEBAMOS! BEBAMOS TUDO ATÉ AO FIM! de um só gole, rápido, e ATÉ AO FIM!!

Merda de país este, em que um governo de anoréticos é sustentado dia após dia por uma população doente e deprimida...

ler mais em: organismos extintos e fundidos

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Reflexões sobre o funcionamento assembleário I

Nas Assembleias da Acampada Lisboa (Democracia Verdadeira Já) houve grandes polémicas sobre o processo de decisão. Alguns, atribuem a essas polémicas o insucesso do acontecimento [aqui denotando que o consideram um insucesso. Isto é duvidoso - a Acampada Lisboa não só continua no mesmo espírito de abertura à sociedade com Assembleias semanais todos os sábados; como promove agora, conjuntamente com outros movimentos, uma grande mobilização popular a 15 de Outubro].

Passados esses tempos conturbados, estabilizada que está a estrutura da Assembleia Popular do Rossio, e dada o início dos trabalhos conducentes à preparação da Assembleia do 15 de Outubro, parece-me valer a pena voltar ao assunto, começando a alinhavar pensamentos dispersos que me ocorreram sobre ele.

Que fique bem clara desde já a minha perspectiva sobre as Assembleias Populares. Para mim, uma Assembleia é um instrumento de transformação colectiva, não é uma reunião pública destinada a cada um fazer valer as suas convicções e preocupações na ânsia de convencer os outros da sua justeza e urgência. É um local de definição de pontos comuns e, até certo ponto, um local de aprendizagem das regras democráticas sobretudo em sociedades com deficientes níveis de participação política. Sobre esta perspectiva alguns tópicos e desmistificações parece-me importante que sejam retidas:

  1. Muito mais que os infiltrados e sabotadores, a pressa é a grande inimiga das Assembleias. As urgências são perigosas e fracturantes. Uma urgência não é na maior parte das vezes uma urgência. Sobretudo se não houver consenso sobre essa urgência. Nenhuma coisa é mais urgente que o debate calmo e aprofundado das propostas. É imperioso que haja amplo lugar para ele. Só ele solidifica internamente um movimento e evita fracturas. Só ele permite determinar os pontos comuns que unem a Assembleia. As participação nas Assembleias é voluntária - se não houver pontos comuns a Assembleia não faz sentido. Não há que temer dizê-lo.
  2. A opção pelo consenso como processo de decisão não elimina a capacidade de decisão. Assegura sim, um efectivo debate, uma efectiva abertura da proposta original à opinião de todos, uma efectiva transformação das propostas individuais ou de pequenos grupos no sentido de pontos comuns a todos.
  3. A opção pelo consenso não é a ditadura da minoria. O que não consegue ser consensualizado simplesmente não é consensualizado. Só isso. E isso não tem nada de grave. Há que saber aceitar que as ideias que nos são queridas e estruturais poderão não ser queridas e estruturais aos outros. A escolha do consenso como método de chegar a uma decisão permite perceber que parte das nossas ideias é comum aos outros, mas não nos impede de as desenvolver individualmente ou em grupo, em toda a sua pureza. No final tudo, mesmo TUDO, é uma decisão nossa, de cada individuo ou corrente na Assembleia. Não há que temer essa diversidade, não há que exigir consensos sobre o que quer que seja. Se não se formarem, não se formam. E prontos. Podemos ir para casa felizes.
  4. A não existencia de um consenso numa Assembleia não significa inacção. As Assembleias Populares não são tudo, há multiplas formas de intervenção paralelas a elas. As Assembleias Populares são apenas lugar de encontro, debate e tomada de decisão comum. Se algo é verdadeiramente importante, então mesmo que não seja decidido numa Assembleia Popular, esse algo acabará inevitavelmente feito pela vontade individual ou de grupos. E, na maior parte das vezes, se houver pontos comuns estabelecidos por consenso, essas múltiplas acções individuais serão convergentes. Mesmo sem uma decisão global da Assembleia Popular sobre cada acção específica ter sido atingida.
  5. É importante chegar a um consenso sobre o modo de funcionamento da Assembleia Popular e de tomada das decisões. Caso isso não seja possível devem ser votados esses aspectos por maioria. Mas se chegarmos à votação por maioria, então devemos ter presente que parte dos elementos originalmente presentes no local poderão não se integrar na Assembleia por discordarem do seu funcionamento. Formarão provavelmente outra Assembleia, noutro local e com outras regras. Isso não tem nada de mal. Haverá por certo convergência na acção, diálogo e respeito entre as várias Assembleias se no início, existiam objectivos comuns.
  6. O facto de se apostar no consenso como processo de decisão não quer dizer que o funcionamento da Assembleia Popular não possa incluir votações por maioria. O que é importante é consciencializar todos de que: a) as decisões têm menos força humana por trás delas que as decisões por consenso e b) ninguém deve obrigar outrém a segui-las só porque a Assembleia aprovou (argumentos como "ah, mas a assembleia decidiu X por isso tens de fazer X" não cabem no meu raciocínio assembleário). Obviamente, quando uma Assembleia Popular decide algo por votação, alguma responsabilidade e ponderação cabe também aos que apresentaram os argumentos derrotados - será caso para fracturar? a decisão coloca em causa os seus objectivos últimos? são decisões que devem ser tomadas com calma e ponderadamente e a que o calor das discussões geralmente não ajuda. Duante esse processo, deve-se ter sempre presente que a Assembleia toma decisões sobre o movimento, não sobre os indivíduos. Por isso, cada qual pode ou não cumprir, e ninguém é obrigado a ficar se não se identificar com o rumo do movimento e se sentir angustiado.
Alguns destes tópicos derivam da minha própria experiência e entendimento do que se passou e passa no Rossio. Outros, derivam de acontecimentos externos. Um, em particular, considero marcante e particularmente inspirador. Verificou-se em Madrid, nas primeiras semanas de Agosto. Perante retirada do ponto de informação do M15 nas Puertas del Sol, várias Assembleias Populares se realizaram com o intuito de "retomar" a praça. As Assembleias Populares ocorreram de forma caótica, desorganizada, a horas e locais não programados, quando as pessoas que neles se encontravam o decidiam. Nota: situação que exija uma tomada de posição mais forte e urgente é difícil de conceber. Infiltrados, deve ter havido mais de muitos. Por isso acho a situação um bom teste ao mecanismo de decisão assembleário por consenso. Saliento alguns factos:

  1. Não foi por terem ocorrido várias Assembleias Populares em vez de uma única assembleia (maior, mais forte e mais representativa) que a resposta do M15 foi menos determinada.
  2. Não foi por ter ocorrido uma grande  diversidade de protestos e de manifestações, umas maiores outras menores, convocadas para vários locais e várias horas por diferentes Assembleias Populares e movimentos, que a resposta do M15 foi menos forte.
  3. Não foi por não ter havido consenso em várias Assembleias Populares em relação a acções concretas e urgentes que a resposta do M15 foi menos eficaz - o que não foi consensualizado não foi, mas as acções individuais continuaram a ser realizadas. E acabaram revelando a convergência que existia em torno do que era comum (no fundo a retomada não-violenta da praça).
  4. E a praça foi retomada. Sem nunca uma Assembleia Popular se tentar sobrepor às outras, sem nunca uma acção se tentar sobrepor às outras, apesar de o consenso nunca ter sido atingido em todas as Assembleias Populares.
Deixo isto à reflexão de todos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Reflexões sobre "Os ricos que paguem a crise"

"Os ricos que paguem a crise" é uma das frases mais ouvidas na esquerda tradicional.

Mas, questionemo-nos. Admitamos que existe uma crise. Querer que os ricos a paguem, não é aceitar que eles sejam ricos? e com isso aceitar todo o regime de exploração e sistema que lhes permitiu enriquecer?

E admitamos que eles a pagam, aceitaremos então que que eles continuem a ser ricos desde que se comprometam a pagar as crises que forem surgindo?

Digo isto para vincar um ponto. Não interessa quem é que paga ou deixa de pagar esta crise. Em ultima análise, não interessam sequer as suas consequências. O que interessa é a sua raiz, as suas causas. É nisso que me parece que importa pensar. "No es la crisis, es el sistema" é uma frase que me cativou o ouvido e cujas multiplas nuances continuo a analisar.

Com isto, devem pensar que me tornei um insensivel social. Penso apenas que toda a pobreza e miséria que existe (e toda a que por aí vem) já está escrita e sabida vai para meses, anos, dezenas de anos, mesmo. E sei que para ela, múltiplos prozacs tem existido e existirão ainda (porque o capitalismo "se move"). Mas solução duradora, democrática, de longo prazo, é que não...e contribuir para ela, começar a pensar nela, é a melhor ajuda que a esquerda pode dar às múltiplas gerações que ainda passarão fome...

Esta passagem, do pensamento na geração actual para um pensamento de multi-geracional, de longo prazo, é particularmente dificil nos dias que correm. Dificil, curiosamente, porque o sistema capitalista tem impregnado as consciencias de imediatismo e individualismo, levando ao quase completo desaparecer do pensamento filosófico...

...sobre isto, muito mais se poderia escrever. E continuará a ser escrito. Necessidades imediatas imperam sobre mim neste momento (irónico, não)

sobre os impostos dos ricos

Ouvi ontem nas notícias que os ricos dos países ricos têm emitido declarações no sentido de darem o seu contributo para os esforços de austeridade...

...mas o grave é que

a) os governos não os tenham chamado a dar esse contributo (a quem servem eles?)
b) os governos corram agora a legislar esse contributo (a quem servem eles?)
c) o contributo seja definido pelos ricos (o "povinho" tem os seus impostos definidos pelo governo, os ricos definem os seus impostos?)

e não deixa de ser interessante a atitude. As escandaleiras economico-financeiras têm sido tão grandes, e a complacência dos governos tão grande, que ou bem que os ricos tomam medidas para atenuar um pouco a conflitualidade social ou terão bem mais a perder que o contributo que agora aceitam dar. Por outro lado, não deixa de ser evidente o paternalismo dos ricos, enriquecidos à custa de sucessivos governos, que vêm agora chamar a atenção para que nunca os taxaram.

Finalmente, este é apenas mais um exemplo de algo mais interessante. Aos que pensam que o capitalismo cairá de morto pelo frenesim da austeridade, o capitalismo responde "e no entanto eu movo-me" (Galileu, adaptado). De facto, constata-se que a esquerda ficou subitamente atarantada (credo, meu Deus, que ideia é essa de nos minarem por antecipação o nosso clássico argumento de que "os ricos que paguem a crise").

E a triste verdade é que, este tipo de declarações funciona. Ele está para a conflitualidade social como o prozac está para a tristeza. Deixa as questões na mesma, mas alivia. É assim uma espécie de abaixamento esporádico da nossa taxa de juro a 10 anos, mas com efeitos . E o problema é que as questões se agravam.

Tenho para mim que os dias que correm são uma gigantesca experiência social. A população vai caminhando alegremente para a escravidão, alimentada a prozac, ipods, viagens low-cost, futebol e revistas cor-de-rosa. Confesso que tenho alguma curiosidade de seguir de pesto o caminho para este nova forma de maximização do rendimento. Populações escravas, que lhes compram os remédios que constantemente atenuam os efeitos escravidão...

Enfim, mas isto são outras histórias...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Detalhes constitucionais*

Artigo 64.º (Saúde)
1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.
2. O direito à protecção da saúde é realizado:
a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito;

Note-se que não é tendo em conta as condições económicas e sociais dos bancos, nem das empresas, nem da Europa, nem sequer do país...são condições económicas e sociais dos cidadãos.  

A minha leitura da frase, indica que a não-gratuitidade só poderá ser ponderada se as condições económicas e sociais dos cidadãos o permitirem. Ora, não é o caso, vive-se cada vez pior neste cantinho à beira mar plantado...
De facto, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, ele devia era ser mais gratuito e não o oposto...

Dito isto, que fazer senão declarar anti-constitucionais todas as medidas que o governo tem vindo a tomar nesta área, Sr. Presidente? 

ps. O meu obrigado a quem me chamou a atenção para esta questão.
 
*não tenho qualquer formação em direito, mas sou um cidadão razoavelmente letrado. É de esperar que a constituição me seja clara...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Agosto, mês de sonhos e de contra-sonhos

Acordei com um travo acre na boca.

Agosto, mês de férias. Lisboa calma. Um governo que continua a anunciar medidas de austeridade. Hoje, a privatização da Parque Expo. Que mais se seguirá. Dá a noção de que só ainda não venderam a mãe deles porque ainda têm as nossas mães em carteira...

Agosto, mês de férias. Dir-se-ia que é quando as pessoas têm mais tempo para si, para o que gostam, para o que realmente é importante. No resto do ano, o trabalho impera, tem de imperar, sobretudo com a crise, sobretudo com esta crise. No resto do ano, na melhor da hipóteses o tempo reduz-se aos finais de tarde e a uns pedacitos de noite...e na maior parte dos dias, não existe mesmo...no resto do ano...

No resto do ano, quem trabalha e tem família é comprimido entre o trabalho, o sono e essa mesma família...aguenta-se apenas...sobrevive apenas...há toda uma correria...n tarefas para cumprir...alimentar e vestir os filhos, educá-los minimamente, deitá-los a horas, e ainda assim maximizar a produtividade...a produtividade, sempre ela...no resto do ano o patrão anda em cima de nós...e com a crise, esta crise, este ano temos de ter cuidado ano...andar bem comportadinhos, cumprir os prazos, inclusive os impossíveis que nos irão atribuir...mas, acima de tudo, temos de maximizar a produtividade laboral...porque sem ela, não se alimenta, nem se veste, nem se educam os filhos...nem a nós próprios...

No resto do ano, quem trabalha e não tem família, é comprimido entre o trabalho e o sono...quase sempre em menosprezo do último...trabalha muitas vezes dez, doze ou até mesmo catorze ou dezasseis horas por dia...sobrevive apenas....maximiza a produtividade laboral...tem de ser...sobretudo com a crise, esta crise....se fica desempregado, não há quem o possa ajudar...não há quem pague a casa, e o carro...não há com quem partilhar despesas e sacrificios...não há com quem ter ideias, procurar soluções...no meio de tanto trabalho também não há tempo para perseguir o sonhos de algum dia ter família...

No resto do ano, quem não trabalha, sobrevive apenas...procura maximizar as suas chances de encontrar emprego...envia curriculos e curriculos, vai ao centro de (des)emprego, insiste em manter optimismo até à milésima entrevista...sofre a crise, esta crise, à medida que se vai preocupando com o que comer ao final do dia...com o como pagar as contas...isto quando come...quando paga as contas...

Agosto, mês de férias. Para alguns, pelo menos. Para muitos, felizmente, ainda. Para muitos que eu conheça. Essa é a minha enviesada amostra da realidade Portuguesa. Sou um "sortudo" por não ter outra. Eu e os que eu conheço. Vivesse eu mais abaixo, e não falaria em férias...não escreveria este blog...nem eu, nem eles...

Face ao exposto, dir-se-ia que o único mês do ano em que é efectivamente possível maximizar o pensamento e a discussão política, em que é possível um activismo político consequente, e em que há tempo para dispender as noites e os dias a planear a necessária e efectiva mudança de sistema, é Agosto. Dir-se-ia que Agosto é também o mês em que família, trabalho, e a política são mais fáceis de conjugar...Dir-se-ia...Dir-se-ia, mas não, não se diz. Muito pelo contrário, constato, que é dos meses em que menos activismo político ocorre...

Agosto, mês de férias. Mês de sonhos. E de contra-sonhos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Reflexões sobre a utopia da cidadania

Do ponto onde me encontro, a leitura que faço das sucessivas crises que atravessamos, é que não será possível dar a volta a este tipo de problemas sem a cidadania. Talvez esteja errado, mas ela parece-me não apenas necessária, mas fundamental, a qualquer solução, seja ela uma evolução positiva do actual sistema económico, seja ela uma mudança radical do próprio sistema. Neste momento, penso que podemos reinventar e testar 10 soluções que dêem resposta a cada um dos 1000 problemas graves, práticos, e urgentes, que quotidanamente enfrentamos. Penso até que podemos ter os melhores líderes políticos a implementá-las. Mas restam-me mesmo muito poucas dúvidas que consigamos resolver as coisas sem cidadania - melhor das hipóteses, se as ideias forem boas e os políticos iluminados, obteremos um balão de oxigénio para uns 2 ou 3 anos...Após isso, o sistema degradar-se-á de novo, de forma ainda pior, sem uma população que o suporte e mantenha viva a capacidade de sistematicamente o reinventar.

Dito isto, a questão que se me coloca é se a cidadania surge ainda antes ou depois desse inevitável agravar dos problemas, i.e., se surge antes ou depois do colapso do actual sistema. Posso estar a cometer um erro mas dou o colapso como inevitável. Isto porque ele é previsto tanto pelos "utópicos" como pelos "pragmáticos", tanto pelos "anti-sistema" como pelos "sistémicos", tanto pela "esquerda" como pela "direita". Esses são, pelo menos, os ecos que me chegam.

A minha aposta no Movimento Democracia Verdadeira Já!, a minha esperança no Rossio e no movimento 15M, a minha dedicação às assembleias e aos encontros populares, essa minha premência e insistência em tentar, acima de tudo, pôr a população a discutir política - longe dos sindicatos e dos partidos políticos -  mesmo perante a urgência da grave crise económica que atravessamos é, para mim, precisamente uma aposta na 1a alternativa (que a cidadania surja antes). Isto porque me recuso (dogmaticamente, confesso) a aceitar que seja preciso mergulhar no colapso (que associo a fome, caos e violência) para que se encontre uma solução para os problemas. Trata-se de uma fé cega que assenta mais na minha convicção pessoal de que nenhuma solução gerada a partir da fome, do caos e da violência possa ser positiva (bem sei que há quem discorde...) do que num acreditar realista de que será possível inverter a tempo a tendência para o colapso.


Posso ser, e sou muitas vezes, rotulado de idealista e de afastado da realidade. Isto porque ultimamente tenho decidido não procurar sequer apresentar soluções milagrosas para os problemas extremamente graves que todos em meu redor (e eu próprio!) enfrentam. Mas que fazer?! Se na realidade dou comigo pensando que nenhuma solução existe sem cidadania, e se ela demora inevitavelmente muito tempo a construir, que fazer?! Que fazer que não por-me ao caminho quanto antes, e esperar sobreviver à jornada?

Ligo a SIC Noticias, o João Soares e uma Sra. do PSD discutem uma taxa sobre as transacções financeiras. Há uns anos, quem a defendia era idealista, irresponsável mesmo. Hoje, são os próprios líderes europeus a pô-la em cima da mesa. Ao mesmo tempo que tentam forçar alterações constitucionais em cada estado membro no que se antevê mais um passo no sentido da subordinação da nossa vida à salvaguarda do sistema financeiro...E uma pergunta me surge: Era mesmo preciso chegar a este ponto para que certas soluções deixassem de ser rotuladas de utópicas e irresponsáveis? E, serão estas verdadeiras soluções quando na realidade se apresentam já feridas na sua essência feridas de uma falta de abertura democrática?

Uma discussão séria sobre isto, só poderá ser tida no contexto de uma cidadania generalizada. Não chega a participação esclarecida de alguns. Por muito impacto que possa ter (via facebook, twitter ou o diaboa quatro!). É necessária a contribuição de muitos (de todos? de quase todos? da maioria? não sei: de Muitos!) para que se tenha a mínima probabilidade de atingir um princípio sequer de uma resposta.

domingo, 14 de agosto de 2011

Michelle Bachman


Para quem ainda não conhece esta candidata republicana a adversária de Obama nas eleições de 2012 que acabou de ganhar a convenção do Iowa...Michelle por ela própria, em 2006:

"eu não sabia que não era crente. Mas eles sabiam que eu não era crente e começaram a rezar por mim. E, de repente, o espirito santo começou a bater à porta  do meu coração e eu pude ouvir o Senhor puxar-me e chamar-me até Ele  e eu respondi a 1 de Novembro de 1972, e eu soube que tinha recebido Jesus Cristo como meu senhor e salvador e que a minha vida nunca mais seria a mesma após eu ter feito esse compromisso porque eu já sabia como a escuridão era."

"Ajudou-me muito entrar no grupo de oração. Foi lá que eu dei a minha vida a Deus e foi uma experiência transformadora para a minha vida reconhecer que eu queria que Ele estivesse no controlo da minha vida em vez de eu estar no controlo da minha vida"

Mais, muito mais, na versão integral em: http://www.newyorker.com/reporting/2011/08/15/110815fa_fact_lizza#ixzz1V1sNbetr

sábado, 13 de agosto de 2011

E subitamente...

Duas notícias no jornal i abriram Hoje algum espaço à discussão de ideias deste verão.

A propósito dos movimentos sociais emergentes, que tentam acordar consciências políticas adormecidas, aspectos importantes como a necessidade de uma auditoria cidadã à dívida são nelas tratadas com a clareza que os opositores oficiais ao acordo com a troika não parecem conseguir atingir...

domingo, 7 de agosto de 2011

Protestos em Israel (Telavive 6.8.2011) III

Em Julho acamparam e foram 150 mil para as ruas.
Em Agosto continuam acampados e são 300 mil nas ruas.

Vai para 3 semanas de protestos, consecutivos, e em crescendo...

Excerto traduzido:

"Itzik Shmuli, lider da Associação Nacional de Estudantes Israelitas, refuto as ideias de que o movimento se tornou partidarizado ou excessivamente politizado

“Não estamos a pedir alterações dos governantes ou na coligação do parlamento que foi eleita pelo povo. Somos jovens e estamos a exigir uma mudança nas políticas económicas crueis. Estamos a exigir uma economia personalizada em vez de uma economia que esmaga, estamos a exigir uma economia que tome em consideração o sofrimento das pessoas e que não seja apenas baseada em números,” disse Shmuli.

“Queremos um balanço mais correcto entre a economia de mercado e a economia humana. Exigimos que seja prestada atenção séria à redução das disparidades sociais e que uma resposta mais activa e abrangente seja dada às necessidades básicas dos cidadãos deste país, em particular os mais vulneráveis e fracos” "

Em muitos dos cartazes lia-se,

"Demitam-se, o Egipto chegou!"

Não deixa de ser interessante, uma revolta num país árabe inspirando uma revolta em Israel. Muito interessante mesmo.

Protestos em Israel (Telavive 6.8.2011) II

Interessante perspectiva dos protestos em Israel,

Protestos em Israel (Telavive 6.8.2011)


sábado, 6 de agosto de 2011

De um manifesto, de vários manifestos, é feita a exigência de uma Democracia

no Sol, ontem à noite

De um grito, de vários gritos, é feita a exigência de Democracia

De facto não é o SOL, são os nossos direitos - inclusive, os direitos de nós, portugueses -  que se jogaram ali, naquela praça, nos últimos dias. É um alivio ter corrido bem - a experiência democrática continua, continua a exposição das falas do sistema, continua a procura e construção livre - assistémica! - de soluções para um mundo melhor...

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Grito

O acto

Tenho para mim que o acto mais subversivo que se pode realizar nesta democracia que hoje vivemos é usar da palavra que dizem que temos para discutir abertamente as ideias que dizem querer ouvir.

Acampada Sol (update)

Uma democracia que combate a sua própria semente...

Carros blindados, bastões, ruas fechadas, helicópteros no ar, check-points, estações de metro encerradas,

Tudo isso para combater isto?!

Acampada Sol (update)

Ao fim de 2 dias, eis que a policia carrega sobre os manifestantes...

manifestantes? ou pessoas pacíficas em livre exercício do seu direito à indignação?

A democracia que reprime a sua própria semente...

Fica esta foto, de há umas horas atrás, numa assembleia popular da Plaza Cibeles - nela fica clara a violência do movimento 15 de Maio...

A democracia que reprime a sua própria semente...mas mais surgirão.

No Rossio, continua-se a praticar esta mesma violência, com aqueles que estão disponíveis para o terrível radicalismo da preocupação e da palavra, todos os sábados às 19:00.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Acampada Sol

A esta hora, a "democracia" espanhola assegura já o controlo da praça. Uma praça que nunca deixou de ser sua, que apenas o foi de uma forma diferente, mais democrática, por uns meses.

Tomaram-na 300 polícias pela manhãzinha. E agora, ao final da tarde, no dia em que a taxa de juro da dívida espanhola atingiu novos máximos, a única forma de a manter, assim "democrática", parece ser encher o local de polícia, bloquear os acessos, exigir identificação e recusar passagem, obrigar o metro a desviar a rota, etc, etc, etc.

Note-se a diferença. Não consta que os manifestantes alguma vez tenham corrido com alguém à força da praça. Mas parece ser o que as instituições "democráticas" estão a fazer. Democracia? que Democracia? que Democracia é assim tão blindada a simples ideias e sonhos? Chamar Democracia a isto é uma mera formalidade, uma farsa mantida viva na opinião pública pelo seu valor simbólico e importância para quem manda, e quem lucra, com o status quo.

Assim é, um Europa tão democrática, tão democrática!, que nem sequer consegue pacificamente admitir em si a semente da sua própria evolução e mudança.

Por pacífica que ela seja.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Vale a pena ler

A reflexão de José Castro Caldas sobre os conflitos entre a esfera nacional e internacional deste sistema em que vivemos.

Mais um alerta...

No turbilhão dos últimos dias (venda escandalosa do BPN ao BIC, aumento dos transportes públicos, a 1a derrota do Porto), esta notícia passou despercebida. O Ministro da Saúde prepara-se para reavaliar até ao final do ano a necessidade de manter certas urgências hospitalares. Isto tomando em linha de conta as valências oferecidas não apenas pelo sector público, mas também pelo sector privado e social. Do ramalhete, onde for concluido que há "excesso de oferta", as urgências públicas encerrarão. Sem grande surpresa, os locais mais prováveis para estes encerramentos são Lisboa e Porto...

humm...por onde começar?...sei lá...

Invertamos o texto...Sr. Ministro, onde houver excesso de oferta, chame esses privados e dê-lhes uma lição de gestão de empresas. Explique-lhes que se há excesso de oferta, então eles nunca serão rentáveis e melhor seria que investissem noutra coisa do que ficassem à espera, a pressionar. Isto porque o Sr. Ministro não é pressionável e é um acérrimo defensor do bem público. Sim, o Sr. Ministro seria incapaz de lhes fazer a vontade, fechar as urgências públicas, transferir para eles milhares de "clientes" e, muito menos, de lhes pagar principescamente por um "serviço público" que cabe ao estado fornecer. Não é Sr. Ministro? não é?

ah, perdão, esqueci que a sua actividade recente esteve ligada aos seguros de saúde...assim já não dá para inverter o texto...ora bolas!

“Não Obrigado!” ao Fundo Baixo Sabor

Não é a crise, não é a edp, não é este ou aquele governo, nem este ou aquele Mexia, não é o Sabor. É o sistema. Com ele nunca será diferente. Porque se o fosse, anular-se-ia.

Um importante comunicado de imprensa: silenciado? esquecido? ignorado?


Comunicado de Imprensa
22 de Julho de 2011 (embargo às 5h da manhã)


As Organizações Não Governamentais de Ambiente dizem “Não Obrigado!” ao Fundo Baixo Sabor

As Organizações Não Governamentais de Ambiente boicotam o concurso de 2011 para o Fundo Baixo Sabor como protesto contra a destruição de ecossistemas de elevado valor ambiental por decisão do governo e da EDP. As principais ONGA dizem: “Não Obrigado! Abdicamos do Fundo Baixo Sabor enquanto se persistir nesta política de secundarizar as questões de ambiente e de desrespeito dos compromissos assumidos por Portugal em relação à protecção da Biodiversidade e da qualidade da água.


O desenvolvimento das obras do empreendimento hidroeléctrico do Baixo Sabor, já com dois anos de percurso, mostra que as preocupações ambientais do governo e da EDP são secundárias, pois os relatórios periódicos entregues à comissão de acompanhamento ambiental mostram fortes impactes negativos e um desfasamento considerável entre as propostas de correcção dos problemas e a sua real implementação no terreno. O decorrer da obra tem revelado muitos problemas nos processos de monitorização, na poluição gerada e na afectação da fauna e flora das zonas intervencionadas.
A fraude é ainda maior, quando se constata que o “Fundo para a Conservação na Natureza e da Biodiversidade”, cujo prazo de candidatura termina hoje, exclui da tipologia de operações a aprovar os projectos de conservação da natureza e da biodiversidade.

Neste sentido, as principais ONGA de Portugal decidiram prescindir de candidatar-se ao Fundo Baixo Sabor de 2011 (este ano no valor de 800 mil de euros), como forma de protesto e em nome da transparência e da verdade sobre os impactes negativos das grandes barragens. As ONGA não se opõem à existência de fundos de Conservação da Natureza. As ONGA censuram, sim, a postura hipócrita dos governos que concedem licenciamentos causadores de capacidade destrutiva às empresas, em troca de programas de distribuição de verbas que, potencialmente, poderão ter valências positivas para o ambiente, a aplicar numa área que pode não corresponder à zona mais afectada pela destruição. O Estado e a EDP procedem assim a uma reprovável campanha de greenwashing, destinada essencialmente a mostrar uma postura de preocupação ambiental que não possuem, numa perspectiva de convencer as populações das zonas afectadas e das zonas a afectar em futuros empreendimentos, que a destruição da biodiversidade tem mais valor económico que a sua protecção. Tudo isto com o dinheiro dos consumidores que pagam na factura, com ou sem vontade.

Para que se compreenda melhor o processo é relevante informar que o Fundo do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor (AHBS), aqui designado por Fundo Baixo Sabor, foi criado pelo Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, por Despacho nº 14136/2010 (2ª Série), de 9 de Setembro e aprovado o seu Regulamento de Gestão, posteriormente alterado pelo Despacho nº 18872/2010 (2ª Série), de 21 de Dezembro. De acordo com as indicações do estado português, a EDP vai depositar uma verba anual de 800 mil euros no fundo financeiro durante os 75 anos da concessão da barragem do Baixo Sabor. Este valor é depois cobrado na factura de electricidade, pelo que, na verdade, a EDP não pagará nada, apenas aumentará o que cobra pelos serviços do monopólio que detém.


As políticas de ordenamento do território e de conservação da natureza levadas a cabo nas últimas décadas têm subvalorizado as questões ambientais, têm provocado fortes impactos negativos no património natural e têm tratado os ecossistemas e as espécies ameaçadas com a delicadeza de um rolo compressor. Raramente se tem atribuído aos ecossistemas e à Biodiversidade a importância que os mesmos têm para as populações humanas pelos serviços actualmente prestados e por prestar, a médio e longo prazo. Não há apostas na valorização dos recursos naturais numa perspectiva de sustentabilidade, no sentido de melhorar a vida das populações humanas. Mais ainda, o Estado vai-se demitindo das suas obrigações em termos de conservação da natureza e de garantia da qualidade da água e coloca as empresas a pagar projectos de compensação ambiental.


Por tudo isto, as ONGA abaixo indicadas dizem “Não Obrigado! Abdicamos do Fundo Baixo Sabor” enquanto se persistir na secundarização das questões ambientais e na continuação de políticas com forte destruição da Biodiversidade, enquanto se pretender calar as instituições com a distribuição de financiamento para actividades e acções que não conseguem repor sequer uma pequena parte do património perdido.

domingo, 24 de julho de 2011

Marchas indignadas - apontamentos (a posteriori)

Uma intervenção do prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz, na Assembleia de Economia do Retiro

Uma série de fotografias da chegada das marchas a Madrid

e muito mais informação em acampadasol

A História da Acampada

Para que não se diga que não existiu

#SpanishRevolution, documentary about the indignant 15M movement from Lainformacioncom on Vimeo.


Marchas indignadas III

Acorda-nos Espanha, que Portugal está dormindo.


Indignação é viver num país que se permite enterrar sem a presença de Presidente da República um Prémio Nobel cujas palavras inspiram outros a tanta cidadania e humanidade!

Marchas indignadas II

Un policía local de Madrid habla a la asamblea: "Todos somos indignados". Pide a sus compañerxs "respeto, respeto y respeto". Manos alzadas y aplauso inmenso para él.

Marchas indignadas I

"Sin violencia podemos llegar a ser un gigante, modesto pero grande y reflexivo. A la calle, que es el sitio al que nos obligan a ir."

sábado, 23 de julho de 2011

Não é uma crise, É o sistema


Hoje as marchas indignadas chegam a Madrid. Não é de crer que os meios de comunicação social dêem cobertura a isto. Pelo menos os nossos, não. Vale a pena seguir em http://politica.elpais.com/tag/movimiento_15m/a/.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Money

Ainda ajuda?!

No público

"Banca empresta 37 mil milhões para nova ajuda à Grécia"

Ajuda, sempre a ajuda...mas qual ajuda?!

Imaginemos que eu tenho alguém trancado na cave sem comida. Uns dias depois, vou lá negociar com ele. E chegamos a um acordo. Eu dou-lhe um paposseco se ele aceitar emagrecer mais um pouco. Uns dias depois, retorno lá e ele está em pior estado. Claramente viveu a cima das suas possibilidades, recusando-se obstinadamente a reduzir a sua taxa metabólica até níveis que lhe permitissem manter-se. A mim, não me convém nada que ele morra. Pode dar problema com polícia e tudo. Chato, muito chato. Por isso, junto-me com uns amigos e decidimos dar-lhe 2 papossecos juntamente com novos conselhos e exigências para que reduza a sua taxa metabólica. Mas desta vez de forma mais gradual porque afinal de contas, sempre são 2 papossecos. Chamamos a esta nossa intervenção: ajuda. Para o fazer sentir-se melhor.

Ajuda, sempre a ajuda...mas qual ajuda?!

Um programa invejável...

Por entre Dead Combo, Virgem Suta, Clã, Amor Electro, Trovante, Mayra Andrade, Camané, Sérgio Godinho, Xutos e Pontapés, Danças Ocultas (e todos os outros bons que me perdoem...), mais uma demonstração de uma excelente e dedicada organização de um partido cujos métodos e programa não subscrevo, mas que há muito aprendi a respeitar pela sua defesa de causas sociais que me são comuns e pela atitude corajosa e determinada que assume nesta vida. Mais informações aqui




quarta-feira, 20 de julho de 2011

Público +

O Público apresentou hoje um novo projecto. O Público +.

No Editorial do Público de hoje, Bárbara Reis, argumenta

"O problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas continuam a subir, o jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira."

e depois explicita:

"Ao fim de um ano e depois de reuniões com muitas empresas e instituições, o Público Mais recebeu o apoio de seis empresas, às quais agradecemos hoje, nestas páginas, e assim o faremos uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos – a duração deste projecto.

Estas seis empresas – EDP, Galp, Mota-Engil, Banco Santander Totta, REN e Vodafone – mostram deste modo o seu perfil filantrópico e acreditam, como nós, na importância do jornalismo de qualidade. E uma última coisa: revelam ser empresas de grande maturidade. Porquê? Porque aceitaram o princípio da total independência, aceitaram que não vão discutir nem saber com antecedência como o PÚBLICO vai usar os recursos deste novo fundo, aceitaram receber prestação das contas – onde fomos, fazer que trabalhos e gastando exactamente quanto – apenas no fim de cada ano.

Estas empresas sabem que o PÚBLICO não fará jornalismo nem mais nem menos simpático sobre qualquer tema de Portugal ou do mundo, incluindo as suas próprias empresas. Não somos nós a dizê-lo, foram os próprios presidentes dos conselhos de administração destas empresas que o disseram. Não há contrapartidas."

O que dizer de tudo isto?

Sintetizemos...O Público procura "um modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira" e ele é encontrado em 6 multinacionais que a troco de um agradecimento "uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos" dão largas ao "seu perfil filantrópico" acreditando "na importância do jornalismo de qualidade" e revelando "ser empresas de grande maturidade". A independência da informação não é apenas dita pelo Público, são "os próprios presidentes dos conselhos de administração destas empresas" que o dizem. E se eles o dizem, por certo não haverá dúvidas [porquê? porque se fossem apenas os jornalistas do público poderiamos suspeitar de conflitos de interesses, mas assim, definitivamente não]

Meu Deus!!!

e que dizer de alguns dos argumentos evocados, quando se cita inclusive a PBS como exemplo, sem dar conhecimento que este canal recebe o seu financiamento de um leque muito alargado de entidades incluindo "member stations' dues, the Corporation for Public Broadcasting, government agencies, foundations, corporations and private citizens." e não apenas de "corporations", que ele aposta forte na diversificação de fontes de financiamento como forma de garantir a sua independência, e que muito sofre quando o estado desinveste nela, porque só os privados não chegam para garantir a qualidade da programação.

Meus Deus!!!

Mas será que esta gente não entende que nunca, nunca, uma destas empresas financiaria algo que pudesse efectivamente prejudicá-la?!

Mas será que esta gente não entende que quando for altura de pagar ou receber salários, no seu subconsciente estará sempre uma preocupação em não atingir que os paga?

Mas será que esta gente não entende, que lhes será moralmente impossível, conduzir uma investigação a fundo a potenciais conluios entre altos cargos de destas empresas e altos cargos políticos?

Mas será que esta gente não entende que apenas 1/100 editores seriam capazes de ir até às ultimas consequências numa investigação às negociatas das energias renováveis ou das ppp sem ser (ou se sentirem) pelo menos um pouco pressionado por estar a por em causa o seu emprego e, sobretudo, o dos seus colegas?

Ou entende e faz de conta que não porque admiti-lo seria demasiado duro?

Tempo*

Dai-me tempo
dai-me o tempo que preciso,
inventai-o,
é urgente,
inventai-o,
já!
O tempo,
o tempo que preciso,
para escrever tudo o que preciso.

É que são tantas coisas, meus Deus
Tantas!
É que não tenho mãos a medir, meu Deus
Não tenho!
E assim não consigo meu Deus
Não consigo!

Tempo,
Falta-me o tempo.
Tempo,
para tudo denunciar,
para tudo comentar,
para tudo ler,
para tudo informar...

Falta-me o tempo,
O tempo para te ajudar
Portugal
que te matam,
No tempo que nem eu,
nem ninguém,
parece ter.


*inicialmente intitulado "Ao Deus dos Blogs"

terça-feira, 19 de julho de 2011

"O efeito google"

O Público de ontem noticia alguns dos efeitos perniciosos do acesso à internet - no que denomina de "efeito google na memória". O estudo é interessante, apontando para o facto de se memorizar menos quando se sabe que a informação estará rapidamente disponível. O mesmo efeito que em tempos permitiu a muitas pessoas não se lembrarem dos aniversários de outrém porque alguém próximo o faria por eles, verifica-se agora entre as pessoas e os computadores.

Até aqui, apenas um estudo interessante. Mas, como habitualmente, es mucho mas grave. Para quem não sabe, o google, outros motores de busca, e a maioria (totalidade?) dos sites da internet usam "cookies" para identificarem os utilizadores e assim fornecerem o conteúdo que potencialmente mais lhes interessará. Em muitos casos esses cookies são apagados no final da sessão, mas nem sempre. Quem já experimentou usar comparar os resultados de busca devolvidos pelo Google em computadores de utilizadores diferentes sabe bem que a ordem dos resultados e, frequentemente, os próprios resultados não são iguais. Isso acontece porque os perfis de utilização do google armazenados nesses cookies são diferentes. Em baixo forneço a minha pesquisa google com a palavra "política" para que comparem.

Ora, é bem sabido que a Google não é nenhum santinho. A ela pertence por exemplo o registo de ter chegado a acordo com o Governo Chinês no sentido de, no aniversário do Massacre de Tianamen, o seu motor de busca não devolver, em território chinês, qq informação sobre o que efectivamente aconteceu naquela praça (idem para a independencia do Tibete).

As duas noticias somadas, alertam-nos para um panorama sombrio. Facto é que quem controla a ordem e o próprio aparecimento de resultados neste hegemónico motor de busca pode, de facto, controlar boa parte do mundo. Numa altura em que os livros são crescentemente substituídos por ficheiros electrónicos chegando-se ao ponto de certas edições já pouco sairem em papel, poderá o google refazer a história? Não vejo porque não. A pesquisa no google é igual à pesquisa de um personagem numa fotografia. Se não estiver lá, nunca existiu. Veja-se, este exemplo, em que por pouco se ia refazendo a história.

Enfim, mais uns anos de completa liberdade legal deste gigante tecnológico (e financeiro) acompanhados da continuação da apologia da internet desde tenra idade, e veremos.

Nota: este artigo foi escrito no blogger, que é hoje propriedade da Google. Se daqui a uns anos não existir, nunca existiu...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Tempo de Antena PCP de 14 de Junho

Tenho bons amigos no PCP e, ainda que discorde politicamente deles em múltiplos aspectos, admiro a sua acção política. Pela sua dedicação à causa e pela sua importância no contexto político nacional, não pelos seus métodos.

Hoje estou aqui para lhes tirar o chapéu. O tempo de antena de ontem na RTP 1 prima pela inovação gráfica e capacidade de mobilização. Sinceramente, parece-me um bom passo no rumo certo. Existem algumas ambiguidades e aspectos que mereciam ser mais explorados, outros que deveriam estar ausentes, mas criticar é fácil. Certo é que se conseguiu chamar a minha atenção e levar-me a escrever este post, ainda que discordando dele em múltiplos pontos, cativará por certo muitos mais. E isso, no actual contexto de apatia do país, é globalmente bom.



ps. na altura de dar um título a este post vários me surgiram na cabeça e estiveram quase a ser publicados. "Haja esperança...", "BE acautela-te...", e outros. Remeto-os para este mero rodapé, optando por um simples descritivo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Portugal não te revoltes não...

Na mesma semana em que se recebem pretensos "murros no estômago" e se incentiva as atenções populares a voltarem-se contra um inimigo externo (os mercados e as suas agências), eis que se sabe que "os dividendos auferidos por investidores particulares não vão pagar o imposto extraordinário de IRS anunciado na semana passada pelo primeiro-ministro."

As explicações adiantadas, variam consoante o orgão de comunicação social...
...por ser inconstitucional, por levar à fuga de capitais, por dificultar a cedência de crédito...

enfim, nada mais óbvio e natural...



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Finalmente!

Na SIC Notícias

"A Grécia endividada e a revolta que está a contagiar o país são o tema em foco em Dividocracia, um documentário seguido de debate, para assistir na SIC Notícias este domingo, pelas 23.00."

Mais informações aqui

quinta-feira, 7 de julho de 2011

23 969 attending; 260 234 waiting reply

Nas últimas horas surgiram inúmeros eventos no facebook de protesto contra a recente descida, pela Moody's, do rating da Républica Portuguesa. O assunto não é novo. Foi já um dos grandes argumentos de Sócrates na justificação das suas políticas de austeridade em 2010 e 2011. Nomeadamente na justificação dos cortes à função pública e restantes medidas dos PECs. É curioso que, hoje, os papeis inverteram-se. Mas há algo mucho mas grave. A falta de memória e reacção impulsiva do povo português a este tipo de iniciativas.
É fácil, e será até estimulado pelo actual governo, esta revolta contra um inimigo exterior. Esquece no entanto um pormenor importante. O que se passa cá dentro. É precisamente por causa destas agências e da forma como os mercados financeiros funcionam que estamos a sofrer a austeridade. Mas o que mais não faltou foi gente em Portugal que os apoiasse ao longo dos ultimos meses. Elas, os seus ratings, e os "mercados" em geral, foram e são usados como justificativo do plano de austeridade que está neste momento a ser aplicado. Srs. como o nosso Presidente da República, o nosso Primeiro-Ministro e muita gente do PS não hesitaram, em 2010, em considerar que os vatícinios das agências e dos mercados eram correctos e que o que havia a fazer era "apertar o cinto".  Cavaco chegou mesmo a sugerir que era anti-patriótico criticar as agências, que o que era preciso era trabalhar, trabalhar, trabalhar.
A pergunta base a colocar deverá ser: se as pomos em causa, não deveriamos por em causa o plano de austeridade e quem o defende?
Fica a pergunta. E a perplexidade de toda esta mobilização nacional ocorrer contra inimigos exteriores mas nunca contra aqueles que, internamente e usando-os como desculpa, se preparam para desbaratar o património público e acabar com direitos sociais fundamentais.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Diga lá outra vez!

Cavaco Silva em Novembro de 2010 afirmava que "a retórica de ataques dos mercados era um erro", em Dezembro de 2010 que "Insultar os mercados prejudica a economia nacional".

Hoje, Cavaco Silva "congratula-se com a condenação da atitude da agência de notação financeira Moody’s por parte da União Europeia, de instituições europeias e internacionais e de vários governos europeus".

O que mudou? o governo. Mas, não nos fiquemos pelos raciocínios simples de partidarite aguda. Não é apenas isso. Es mucho mas grave.

A verdade é que este senhor não se emendou. Continua no poder e continua a insistir que a solução é austeridade, e austeridade, e trabalho e trabalho, e apertar o cinto e apertar o cinto, e perda de direitos sociais e perda de direitos sociais...apesar das frases que diz...

Não há tempo a perder. Quanto mais tempo este senhor e todos os outros (nacionais e europeus) se mantiverem no poder, com as suas falas simples sobre a austeridade e o apertar do cinto que não sentem, pior será a nossa situação. Estamos hoje a braços com um empréstimo mal explicado e que nunca conseguiremos pagar. Não há pedido de desculpas para a miséria e precariedade que a tentativa de se salvarem a si próprios e aos seus amigos já causou e irá ainda causar.

Meus caros, ele, os seus amigos, e todo o séquito de comentadores subservientes que os servem, foram avisados. TODOS foram avisados. E por muitos. Inclusive por um Prémio Nobel da economia, que já em em Dezembro de 2010 afirmava "Os defensores da austeridade prevêem que esta produza dividendos rápidos sob a forma de aumento da confiança económica, com poucos ou nenhuns efeitos negativos sobre o crescimento e o emprego; o problema é que não têm razão" e que a "que a estratégia correcta é emprego primeiro défice depois".

Dito isto, pouco mais há a dizer...não se trata aqui de uma ou outra opção política...trata-se de uma diferença muito clara entre uma política que se protege a si própria, se auto-preserva, e protege os seus lucros e amigos, e uma política que se quer centrada nos cidadãos, no seu bem estar, e por isso blindada a toda a escumalha de interesses financeiros que por aí anda. Perdoem-me o desabafo, mas a única solução é tirá-los, a TODOS, do topo da pirâmide e fazê-los pedir desculpa. A todos. Na cadeia. Porque quem sofre tem toda a legitimidade para traçar um limite para a miséria e desespero que tanta arrogância, individualismo e falta de sentido de estado podem causar.

Meus caros,

Não esperem pelo amanhã. O amanhã será apenas pior. Ainda mais irreversivel. Ainda mais difícil que o hoje. Venham para a rua. Agora. Já!. E exijam de uma vez por todos o que têm direito. Uma Democracia Verdadeira, que se preocupe convosco, que respeite os vossos sonhos (ainda que não lhe caiba garantir-los), e que acima de tudo, não vos trate como carne para canhão ou exército de escravos ao serviço de interesses economico-financeiros que nunca sequer saberão quem são!

No próximo fim de semana, não vão para a praia, não vão a concertos, não vão de férias. Porque quando regressarem a casa estarão contentes mas um pouco mais escravos e um pouco mais pobres. Venham ao Rossio. Venham ao Parque Edurado VII. Participem nestas ou noutras iniciativas da sociedade civil. Saiam de casa. Façam ouvir a vossa voz. De uma vez por todas! Se o vosso barco se afunda, pelo menos gritem por ajuda!

foda-se.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Golden share

Mais um belo exemplo de como uma simples política governamental gera enormes rendimentos nos privados. Sem a interferência do governo, as suas acções valem mais. Muito mais. Este é o tipo de mais-valias que o governo não cobra. Muito pelo contrário. Este é o tipo de mais-valias que o governo dá a ganhar.

Se houvesse uma investigação...

...aposto que se descobriria que alguns dos fundos de investimento em que banqueiros e governantes investem as suas poupanças apostam no "default" de Portugal...

Nota: é uma mera aposta. De facto, com a falta de transparência do sector financeiro nacional, nem me admira que eu próprio lá tenha o dinheiro da minha conta poupança investido.

I am Moody!

Sarcasticamente falando diria que pela primeira vez concordo com a porra das agências de rating. Também eu não penso que seja com estas políticas que Portugal consiga pagar a dívida. Sinceramente, tivesse eu dinheiro investido cá (tivesse eu dinheiro!) e estaria a apostar no não-pagamento da dívida e nunca no seu pagamento.

Mas eu, pelo menos sou sarcástico. Não tento iludir o povo com desculpas como um certo novo ministro que nos tenta convencer que a referida agência não tem conhecimento da situação política de Portugal (têm lá eles outra coisa!), que ignora o efeito do corte no subsídio de natal (ignoram lá eles outra coisa!), e que desconhecem que o governo se prepara para ir muito além do programa da troika (desconhecem lá eles outra coisa!) [podem ver essa desgraça aqui]

8:30

8:30. 8:30 foi a hora do início do conselho de ministros de hoje. Não lhes chega as 8 horas de trabalho diárias para todas as malfeitorias? ainda mal o português não abriu a pestana e já lhe estão a tramar a vida?

Esclarecimento: durante muitos anos trabalhei do outro lado do dia. Sei muito bem os milhares de Portugueses que não dormem a essas horas.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mensagem da Praça Sintagma aos Investidores Estrangeiros

Numa altura em que o Governo Grego sofre de crescente falta de legitimidade, faz algum sentido o apelo emitido ontem pela assembleia popular da praça Sintagma. Qualquer coisa nas linhas de...

Caros investidores, as propriedades e empresas públicas que comprarem a um governo sem legítimidade, perdê-las-ão quando o povo retomar o poder que é seu. E não terão direito a reembolso.



Antena 1 e a Grécia

Evidenciando que nem todos os média alinham pela mesma bitola, José Manuel Rosendo, enviado da Antena 1 à Grécia, apresenta a face pacífica dos protestos gregos e as conclusões da última assembleia popular (podem ouvir aqui).

De igual forma, ontem no programa visão global, Eduarda Maio apresenta aquilo que muitos jornalistas nacionais se têm esquecido de referir. Que existem evidências concretas de que a violência grega está a ser deliberadamente encenada no sentido de abafar a força dos protestos pacíficos (que não são referidas pelos outros média). E que o preço do pacote de arroz na grécia é 3x superior ao de Portugal (o que desmitifica a ideia passada nos restantes média de que os gregos viviam acima das suas possibilidades ao terem um salário mínimo ligeiramente superior ao nosso). Podem ouvir aqui

terça-feira, 28 de junho de 2011

Leituras


A todos aqueles que pacientemente aguardam que estejam reunidas todas as condições necessárias para então se decidirem a levantar-se, dar um pulo à rua e exigir um pouco de respeito, aconselho esta leitura (aqui).

De Copenhaga para o Mundo



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Uma vergonha nacional

Mais de 700 mil desempregados
Mais de 4 milhões de abstencionistas nas últimas eleições
Quantos precários? 1 milhão?

Uma desconfiança mais do que generalizada nos agentes políticos
Um acordo com a troika FMI/BCE/UE assustador mas que praticamente nenhum eleitor leu

Um plano de austeridade que apoia os bancos e faz a população pagar os custos e os juros
Um plano de austeridade que coloca nas mãos dos privados aquilo que sempre foram bem públicos

Violações atrás de violações do sistema democrático a bem de interesses financeiros que ninguém sabe ao certo quais são

É esta uma democracia centrada nos cidadãos e blindada aos interesses económico-financeiros? É esta uma democracia verdadeira? Ou uma farsa instituida como democracia?

E no entanto,

Ontem, apenas cerca 10 cidadãos, protestando na tomada de posse do XIX Governo (visiveis aqui infelizmente atrás dos Homens da Luta...)

E no entanto,

Ontem, apenas 4 cidadãos, protestando em frente ao Ministério da Finanças durante a reunião com a Troika (ver aqui e aqui)

e dos últimos, 2 eram espanhóis, um país que nem metade da crise financeira de Portugal tem...

Parabéns Portugal. Tens os líderes que mereces. Terás a crise que mereces. És nevoeiro e nem acendes a porra dos faróis.


ps. Em vésperas da II Grande Guerra uma das atitudes que conduziu ao desastre subsequente foi uma parte da população ter-se mantido calada, a trabalhar, a trabalhar, a fazer pela vida, a lutar pela vida, e sobretudo, a procurar não dar nas vistas, na esperança de obter as graças do sistema, na esperança de que tudo passasse, na esperança de que mantendo a cabeça bem baixa conseguisse escapar à "crise". Muitas dessas pessoas acabaram exterminadas nos campos de concentração. E as que não foram, tiveram familiares que foram. Tranquilizem-se. Felizmente, a situação hoje não é tão grave. Trata-se apenas de desemprego, pobreza generalizada, perca de direitos e qualidade de vida, escravidão total e completa aos mercados financeiros, e alguma falta de democracia. Enfim...pormenores!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Achas mesmo que vives numa Democracia Verdadeira

Retirado de um texto de divulgação dos acampados do Rossio

Cidadania e participação

Democracia Verdadeira é:
·        Um sistema político baseado na emancipação popular, numa consciencialização aberta e numa humanização de todas as decisões, onde as pessoas são o que realmente importa.
·        Um sistema político que gere os recursos e ideias pensando no bem comum colectivo e individual
·        Um sistema político centrado nos cidadãos e no interesse colectivo e blindado aos interesses individualistas e económico-financeiros
·        Um sistema político onde se encontram instaurados processos de participação cidadã e onde o poder de decisão está nos cidadãos; onde a participação cívica e colectiva não só é possível como é activamente estimulada tanto pelo governo como pelo estado e privados possuindo consequências práticas generalizadas
·        Um sistema político em que os cidadãos têm ampla consciência da sua importância enquanto força de trabalho e em que conhecem e exercem todos os seus direitos e deveres enquanto trabalhadores
·        Um sistema político em que todos os cidadãos são consumidores informados e em que conhecem e exercem os seus direitos e responsabilidades enquanto elos da cadeia de consumo
·        Um sistema político que dá voz e capacidade de decisão aos cidadãos
·       




Processos e cargos políticos

Democracia Verdadeira é:
·        Um sistema político transparente a nível das políticas e dos processos de governação, onde existem mecanismos rigorosos e eficientes de controlo do gasto público, dos financiamentos partidários e dos rendimentos e património dos governantes e de todos os gestores de interesses públicos e privados
·        Um sistema político em que toda a actividade política é supervisionada e escrutinada pelos cidadãos
·        Um sistema político efectivamente representativo, em que os processos eleitorais são justos e em que todos os votos têm igual valor
·        Um sistema político em que os programas apresentados às eleições são vinculativos e em que os titulares de cargos políticos são activa e rapidamente responsabilizados pelas consequência das medidas que aplicam
·        Um sistema político em que todas as principais decisões são tomadas após consulta aos cidadãos
·        Um sistema político que permite e respeita a decisão na diferença
·        Um sistema político sem corrupção, onde os políticos não têm privilégios acima dos restantes cidadãos e são responsabilizados pelos seus actos tal como todos os restantes cidadãos
·        Um sistema político baseado na experiência e no mérito, sem cargos de nomeação directa ou indirecta
·       




Informação e media

Democracia Verdadeira é:
·        Um sistema político onde a informação e os média são efectivamente credíveis, transparentes, independentes, e não-discriminatórios (em suma, de qualidade!).
·        Um sistema político onde a informação e os media estão blindados a qualquer tipo de censura (política, económica, etc.) e onde a correcção de eventuais abusos acontece de forma rápida e eficaz, responsabilizando activamente os culpados
·       


Direitos, deveres e igualdade social

Democracia Verdadeira é:

·        Um sistema político com direitos iguais para todos
·        Um sistema político com serviços públicos em todas as áreas essenciais e onde estes não são objecto de lucro
·        Um sistema político que assume e implementa o direito à alimentação, à habitação, à saúde, ao emprego, à justiça, à educação, à segurança, ao ambiente e a uma vida de efectiva qualidade e bem estar
·        Um sistema político onde existe uma repartição justa dos deveres, das responsabilidades, dos poderes e das riquezas
·        Um sistema político onde existe justiça social e não existe desigualdade social
·       


Habitação

Democracia Verdadeira é:

·        Um sistema político que consagra e aplica o direito de todos a uma habitação condigna e que não admite e pune a especulação imobiliária
·       

Arte e cultura

Democracia Verdadeira é:

·        Um sistema político em que a arte e a cultura têm lugar de destaque e que estimula o seu desenvolvimento em todos os cidadãos
·       

Economia

Democracia Verdadeira é:
·        Um sistema político em que o crescimento económico não é considerado um fim em si mesmo mas sim um meio para atingir o bem estar dos cidadãos
·       



Ambiente

Democracia Verdadeira é:

·        Um sistema político em que é feito um tratamento verdadeiro e transparente das questões ambientais
·        Um sistema político que reconhece o planeta como um conjunto de ecossistemas do qual fazemos parte que nos providencia com tudo o que temos e precisamos [ar, água, terra, alimentação, abrigo, beleza, etc.]
·        Um sistema político em que é feita uma utilização racional e sustentável dos recursos ambientais, em que são usadas tecnologias e produtos "amigos" do ambiente e excluídas tecnologias e produtos nocivos ao ambiente
·        Um sistema político que assegura uma correcta gestão dos bens mais essenciais, nomeadamente da água
·       


Saúde

Democracia Verdadeira é:

·        Um sistema político em que existe um sistema de saúde gratuito e funcional em que todos as pessoas são atendidas de modo humano e em tempo útil
·        Um sistema político que reconhece todas as medicinas pelas suas mais valias e sem preconceitos
·       

Educação

Democracia Verdadeira é:

·        Um sistema político que implementa uma educação gratuita e de qualidade para todos os cidadãos, onde a cidadania, consciência, ética e responsabilidade individuais se constituem como pedras basilares
·