terça-feira, 19 de julho de 2011

"O efeito google"

O Público de ontem noticia alguns dos efeitos perniciosos do acesso à internet - no que denomina de "efeito google na memória". O estudo é interessante, apontando para o facto de se memorizar menos quando se sabe que a informação estará rapidamente disponível. O mesmo efeito que em tempos permitiu a muitas pessoas não se lembrarem dos aniversários de outrém porque alguém próximo o faria por eles, verifica-se agora entre as pessoas e os computadores.

Até aqui, apenas um estudo interessante. Mas, como habitualmente, es mucho mas grave. Para quem não sabe, o google, outros motores de busca, e a maioria (totalidade?) dos sites da internet usam "cookies" para identificarem os utilizadores e assim fornecerem o conteúdo que potencialmente mais lhes interessará. Em muitos casos esses cookies são apagados no final da sessão, mas nem sempre. Quem já experimentou usar comparar os resultados de busca devolvidos pelo Google em computadores de utilizadores diferentes sabe bem que a ordem dos resultados e, frequentemente, os próprios resultados não são iguais. Isso acontece porque os perfis de utilização do google armazenados nesses cookies são diferentes. Em baixo forneço a minha pesquisa google com a palavra "política" para que comparem.

Ora, é bem sabido que a Google não é nenhum santinho. A ela pertence por exemplo o registo de ter chegado a acordo com o Governo Chinês no sentido de, no aniversário do Massacre de Tianamen, o seu motor de busca não devolver, em território chinês, qq informação sobre o que efectivamente aconteceu naquela praça (idem para a independencia do Tibete).

As duas noticias somadas, alertam-nos para um panorama sombrio. Facto é que quem controla a ordem e o próprio aparecimento de resultados neste hegemónico motor de busca pode, de facto, controlar boa parte do mundo. Numa altura em que os livros são crescentemente substituídos por ficheiros electrónicos chegando-se ao ponto de certas edições já pouco sairem em papel, poderá o google refazer a história? Não vejo porque não. A pesquisa no google é igual à pesquisa de um personagem numa fotografia. Se não estiver lá, nunca existiu. Veja-se, este exemplo, em que por pouco se ia refazendo a história.

Enfim, mais uns anos de completa liberdade legal deste gigante tecnológico (e financeiro) acompanhados da continuação da apologia da internet desde tenra idade, e veremos.

Nota: este artigo foi escrito no blogger, que é hoje propriedade da Google. Se daqui a uns anos não existir, nunca existiu...

Sem comentários:

Enviar um comentário