sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Agosto, mês de sonhos e de contra-sonhos

Acordei com um travo acre na boca.

Agosto, mês de férias. Lisboa calma. Um governo que continua a anunciar medidas de austeridade. Hoje, a privatização da Parque Expo. Que mais se seguirá. Dá a noção de que só ainda não venderam a mãe deles porque ainda têm as nossas mães em carteira...

Agosto, mês de férias. Dir-se-ia que é quando as pessoas têm mais tempo para si, para o que gostam, para o que realmente é importante. No resto do ano, o trabalho impera, tem de imperar, sobretudo com a crise, sobretudo com esta crise. No resto do ano, na melhor da hipóteses o tempo reduz-se aos finais de tarde e a uns pedacitos de noite...e na maior parte dos dias, não existe mesmo...no resto do ano...

No resto do ano, quem trabalha e tem família é comprimido entre o trabalho, o sono e essa mesma família...aguenta-se apenas...sobrevive apenas...há toda uma correria...n tarefas para cumprir...alimentar e vestir os filhos, educá-los minimamente, deitá-los a horas, e ainda assim maximizar a produtividade...a produtividade, sempre ela...no resto do ano o patrão anda em cima de nós...e com a crise, esta crise, este ano temos de ter cuidado ano...andar bem comportadinhos, cumprir os prazos, inclusive os impossíveis que nos irão atribuir...mas, acima de tudo, temos de maximizar a produtividade laboral...porque sem ela, não se alimenta, nem se veste, nem se educam os filhos...nem a nós próprios...

No resto do ano, quem trabalha e não tem família, é comprimido entre o trabalho e o sono...quase sempre em menosprezo do último...trabalha muitas vezes dez, doze ou até mesmo catorze ou dezasseis horas por dia...sobrevive apenas....maximiza a produtividade laboral...tem de ser...sobretudo com a crise, esta crise....se fica desempregado, não há quem o possa ajudar...não há quem pague a casa, e o carro...não há com quem partilhar despesas e sacrificios...não há com quem ter ideias, procurar soluções...no meio de tanto trabalho também não há tempo para perseguir o sonhos de algum dia ter família...

No resto do ano, quem não trabalha, sobrevive apenas...procura maximizar as suas chances de encontrar emprego...envia curriculos e curriculos, vai ao centro de (des)emprego, insiste em manter optimismo até à milésima entrevista...sofre a crise, esta crise, à medida que se vai preocupando com o que comer ao final do dia...com o como pagar as contas...isto quando come...quando paga as contas...

Agosto, mês de férias. Para alguns, pelo menos. Para muitos, felizmente, ainda. Para muitos que eu conheça. Essa é a minha enviesada amostra da realidade Portuguesa. Sou um "sortudo" por não ter outra. Eu e os que eu conheço. Vivesse eu mais abaixo, e não falaria em férias...não escreveria este blog...nem eu, nem eles...

Face ao exposto, dir-se-ia que o único mês do ano em que é efectivamente possível maximizar o pensamento e a discussão política, em que é possível um activismo político consequente, e em que há tempo para dispender as noites e os dias a planear a necessária e efectiva mudança de sistema, é Agosto. Dir-se-ia que Agosto é também o mês em que família, trabalho, e a política são mais fáceis de conjugar...Dir-se-ia...Dir-se-ia, mas não, não se diz. Muito pelo contrário, constato, que é dos meses em que menos activismo político ocorre...

Agosto, mês de férias. Mês de sonhos. E de contra-sonhos.

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