quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Reflexões sobre a utopia da cidadania

Do ponto onde me encontro, a leitura que faço das sucessivas crises que atravessamos, é que não será possível dar a volta a este tipo de problemas sem a cidadania. Talvez esteja errado, mas ela parece-me não apenas necessária, mas fundamental, a qualquer solução, seja ela uma evolução positiva do actual sistema económico, seja ela uma mudança radical do próprio sistema. Neste momento, penso que podemos reinventar e testar 10 soluções que dêem resposta a cada um dos 1000 problemas graves, práticos, e urgentes, que quotidanamente enfrentamos. Penso até que podemos ter os melhores líderes políticos a implementá-las. Mas restam-me mesmo muito poucas dúvidas que consigamos resolver as coisas sem cidadania - melhor das hipóteses, se as ideias forem boas e os políticos iluminados, obteremos um balão de oxigénio para uns 2 ou 3 anos...Após isso, o sistema degradar-se-á de novo, de forma ainda pior, sem uma população que o suporte e mantenha viva a capacidade de sistematicamente o reinventar.

Dito isto, a questão que se me coloca é se a cidadania surge ainda antes ou depois desse inevitável agravar dos problemas, i.e., se surge antes ou depois do colapso do actual sistema. Posso estar a cometer um erro mas dou o colapso como inevitável. Isto porque ele é previsto tanto pelos "utópicos" como pelos "pragmáticos", tanto pelos "anti-sistema" como pelos "sistémicos", tanto pela "esquerda" como pela "direita". Esses são, pelo menos, os ecos que me chegam.

A minha aposta no Movimento Democracia Verdadeira Já!, a minha esperança no Rossio e no movimento 15M, a minha dedicação às assembleias e aos encontros populares, essa minha premência e insistência em tentar, acima de tudo, pôr a população a discutir política - longe dos sindicatos e dos partidos políticos -  mesmo perante a urgência da grave crise económica que atravessamos é, para mim, precisamente uma aposta na 1a alternativa (que a cidadania surja antes). Isto porque me recuso (dogmaticamente, confesso) a aceitar que seja preciso mergulhar no colapso (que associo a fome, caos e violência) para que se encontre uma solução para os problemas. Trata-se de uma fé cega que assenta mais na minha convicção pessoal de que nenhuma solução gerada a partir da fome, do caos e da violência possa ser positiva (bem sei que há quem discorde...) do que num acreditar realista de que será possível inverter a tempo a tendência para o colapso.


Posso ser, e sou muitas vezes, rotulado de idealista e de afastado da realidade. Isto porque ultimamente tenho decidido não procurar sequer apresentar soluções milagrosas para os problemas extremamente graves que todos em meu redor (e eu próprio!) enfrentam. Mas que fazer?! Se na realidade dou comigo pensando que nenhuma solução existe sem cidadania, e se ela demora inevitavelmente muito tempo a construir, que fazer?! Que fazer que não por-me ao caminho quanto antes, e esperar sobreviver à jornada?

Ligo a SIC Noticias, o João Soares e uma Sra. do PSD discutem uma taxa sobre as transacções financeiras. Há uns anos, quem a defendia era idealista, irresponsável mesmo. Hoje, são os próprios líderes europeus a pô-la em cima da mesa. Ao mesmo tempo que tentam forçar alterações constitucionais em cada estado membro no que se antevê mais um passo no sentido da subordinação da nossa vida à salvaguarda do sistema financeiro...E uma pergunta me surge: Era mesmo preciso chegar a este ponto para que certas soluções deixassem de ser rotuladas de utópicas e irresponsáveis? E, serão estas verdadeiras soluções quando na realidade se apresentam já feridas na sua essência feridas de uma falta de abertura democrática?

Uma discussão séria sobre isto, só poderá ser tida no contexto de uma cidadania generalizada. Não chega a participação esclarecida de alguns. Por muito impacto que possa ter (via facebook, twitter ou o diaboa quatro!). É necessária a contribuição de muitos (de todos? de quase todos? da maioria? não sei: de Muitos!) para que se tenha a mínima probabilidade de atingir um princípio sequer de uma resposta.

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