quarta-feira, 20 de julho de 2011

Público +

O Público apresentou hoje um novo projecto. O Público +.

No Editorial do Público de hoje, Bárbara Reis, argumenta

"O problema é que, ao contrário dos tablóides, cujas vendas continuam a subir, o jornalismo de qualidade não encontrou ainda o modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira."

e depois explicita:

"Ao fim de um ano e depois de reuniões com muitas empresas e instituições, o Público Mais recebeu o apoio de seis empresas, às quais agradecemos hoje, nestas páginas, e assim o faremos uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos – a duração deste projecto.

Estas seis empresas – EDP, Galp, Mota-Engil, Banco Santander Totta, REN e Vodafone – mostram deste modo o seu perfil filantrópico e acreditam, como nós, na importância do jornalismo de qualidade. E uma última coisa: revelam ser empresas de grande maturidade. Porquê? Porque aceitaram o princípio da total independência, aceitaram que não vão discutir nem saber com antecedência como o PÚBLICO vai usar os recursos deste novo fundo, aceitaram receber prestação das contas – onde fomos, fazer que trabalhos e gastando exactamente quanto – apenas no fim de cada ano.

Estas empresas sabem que o PÚBLICO não fará jornalismo nem mais nem menos simpático sobre qualquer tema de Portugal ou do mundo, incluindo as suas próprias empresas. Não somos nós a dizê-lo, foram os próprios presidentes dos conselhos de administração destas empresas que o disseram. Não há contrapartidas."

O que dizer de tudo isto?

Sintetizemos...O Público procura "um modelo de negócio que lhe permita auto-suficiência e saúde financeira" e ele é encontrado em 6 multinacionais que a troco de um agradecimento "uma vez por mês ao longo dos próximos dois anos" dão largas ao "seu perfil filantrópico" acreditando "na importância do jornalismo de qualidade" e revelando "ser empresas de grande maturidade". A independência da informação não é apenas dita pelo Público, são "os próprios presidentes dos conselhos de administração destas empresas" que o dizem. E se eles o dizem, por certo não haverá dúvidas [porquê? porque se fossem apenas os jornalistas do público poderiamos suspeitar de conflitos de interesses, mas assim, definitivamente não]

Meu Deus!!!

e que dizer de alguns dos argumentos evocados, quando se cita inclusive a PBS como exemplo, sem dar conhecimento que este canal recebe o seu financiamento de um leque muito alargado de entidades incluindo "member stations' dues, the Corporation for Public Broadcasting, government agencies, foundations, corporations and private citizens." e não apenas de "corporations", que ele aposta forte na diversificação de fontes de financiamento como forma de garantir a sua independência, e que muito sofre quando o estado desinveste nela, porque só os privados não chegam para garantir a qualidade da programação.

Meus Deus!!!

Mas será que esta gente não entende que nunca, nunca, uma destas empresas financiaria algo que pudesse efectivamente prejudicá-la?!

Mas será que esta gente não entende que quando for altura de pagar ou receber salários, no seu subconsciente estará sempre uma preocupação em não atingir que os paga?

Mas será que esta gente não entende, que lhes será moralmente impossível, conduzir uma investigação a fundo a potenciais conluios entre altos cargos de destas empresas e altos cargos políticos?

Mas será que esta gente não entende que apenas 1/100 editores seriam capazes de ir até às ultimas consequências numa investigação às negociatas das energias renováveis ou das ppp sem ser (ou se sentirem) pelo menos um pouco pressionado por estar a por em causa o seu emprego e, sobretudo, o dos seus colegas?

Ou entende e faz de conta que não porque admiti-lo seria demasiado duro?

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