quarta-feira, 25 de maio de 2011

Eu sei bem...

Eu sei bem que se por estes dias andasse ouvindo a campanha eleitoral não me faltaria que comentar. O pouco que vou ouvindo, à noite quando vou para casa, vai sendo cada vez pior. É demasiado evidente que PS, PSD, e CDS não estão dispostos a discutir o (seu) programa da troika e que trocam soundbites com o intuito de manter o eleitor/telespectador entretido. E que BE, PCP e outros mal se conseguem fazer ouvir no meio desse turbilhão.

Agora, dirão alguns, já não é tempo para debater a sério. Já não há tempo. E o plano da troika está aí, quase aprovado, só falta um governo que o implemente. Mas...e se fosse de debates que a gente precisasse? E se houvesse tempo? mais não fosse para que o futuro fosse um pouco menos mau? passa por mim no Rossio...




domingo, 22 de maio de 2011

Redução dos Feriados

Passos Coelho defendeu hoje que devem ser reduzidos os feriados. A bem da produtividade (ver aqui).

Mas ele sabe bem que aqui não se trata de produtividade. A verdade neste país, é que muitos de nós já trabalhamos à noite, aos feriados e aos fins de semana.

Talvez não sejamos todos, de facto. Alguns ainda valorizam a importância de estar com a família, educar os filhos, ou simplesmente descansar um pouco aqui e ali.

Desculpem, mas não faz sentido. Isto de alterarmos hábitos e tradições culturais nossas a favor da produtividade económica obtida em 3 ou 4 dias por ano. Não faz sentido querermos ser alemães ou franceses para sermos mais produtivos. A lógica da produtividade tem de parar nalgum ponto. Não pode atropelar a cultura.

Senão, após isto, pedem-nos que marquemos os nossos feriados numa data comum aos restantes estados europeus por forma a que todos "feriemos" ao mesmo tempo. Ou, pior ainda, que eles sejam bem espaçados ao longo do ano por forma a maximizar a utilidade dessas paragens (i.e., para poder produzir mais a seguir).

Quando assim for, a nossa vida não terá mais sal. Nem tempero. Nem gosto. Apenas ingredientes matematicamente misturados de forma optimizarem a nossa nutrição.

Update Rossio - 21 de Maio (sábado)

Continua a esperança no Rossio. Ontem, discutiram-se alterações ao manifesto, avaliaram-se as condições legais e logísticas do acampamento (que vai melhorando de dia para dia), falou-se na possibilidade de realizar uma manifestação, e dos esforços que estão a ser feitos para intervir mais junto do público, e de como comunicar para fora as nossas ideias, e de....

No total, mais de 500 pessoas, entre mais novos e mais velhos, unidos pela necessidade que sentem de gerar um movimento contra a inevitabilidade do pacote de austeridade que está a ser imposto, a precariedade a que se chegou, a necessidade de uma alteração radical na qualidade da democracia, que se quer centrada nas pessoas e blindada aos interesses financeiros. A assembleia e os grupos de trabalho que se seguiram, onde todos os presentes participaram, prolongaram-se para lá das 3 da manhã, em grupos de discussão espalhados pela praça.

Foi bom ver que o movimento se começa a alargar e está ao fim de dois dias, cerca de 5 vezes maior. É importante que continue a crescer para que consiga influenciar uma campanha eleitoral em que 3 partidos farão o possível por andar a discutir fait divers e distrair os portugueses da dureza das medidas que lhe vão impor.

Para hoje, está marcada nova assembleia popular. Desta feita para as 18:00. Decisões importantes vão ser tomadas, nomeadamente a discussão e votação final do manifesto. Serão também apresentados os progressos dos grupos de trabalho de ontem e hoje. Apela-se a toda a população que compareça. Não é altura para ficar em casa. É preciso tomar posição. Por si, por mim, por nós.

A vida não é existir sem mais nada...


sábado, 21 de maio de 2011

E se...

E se de um acampamento de jovens e alguns batuques, motivado por preocupações comuns às da sociedade espanhola e de muitas outras sociedades, algo como isto (mas mais afirmativo e estruturado) se gerasse? E exigisse definitivamente o fim do estado a que Portugal chegou?




Faz mal acreditar? e porque não participar?

20 de Maio (update)

Quem esteve lá (e foram mais 200 pessoas) sabe da importância que o evento assumiu. E sabe da falta que fazem todos os que se identificam com o manifesto preliminar (que será apresentado, discutido e votado em assembleia popular esta noite, no Acampamento do Rossio, às 22 horas). Sabe a falta que fazem as experiências e o saber de vida dos outros. E a pena que faz que fiquem em casa quando por todo o mundo (em mais de 500 cidades, ver aqui), movimentos semelhantes, melhor ou pior, se tentam construir para exigir, inovar e responsabilizar-se.

Os que lá estiveram sabem que são jovens. Mas sabem também a falta que faz o contributo das outras gerações. Eles não querem ser só jovens. Eles não querem ser só eles. Eles querem ser mais, muito mais. E melhores. Por isso é importante que todos saiam de casa e participem nesta construção. Como fizeram os espanhóis. E como podemos fazer nós. Motivos não faltam.

Porque esperar pela tristeza que nos trará o dia 5 de Junho pode até revelar que temos razão. Mas servirá de muito pouco. Demasiadamente pouco. Já será demasiado tarde. É agora que "É a Hora!"

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O defensor dos mais pobres

No público: "Portas e Louçã disputam lugar de “defensor” dos mais pobres" (aqui) .

Comment: Se os mais pobres decidissem começar a defender-se ajudava.

20 de Maio

Acampada Lisboa - 20 de Maio em diante

Este final de tarde/noite, reunidos em assembleia na Rua do Salitre nº 1, cerca de 150 pessoas decidiram, entre outras coisas, acampar em frente ao Consulado Espanhol.  Apela-se a todos os que possam que passem lá a dar um abraço e levar alguma comida e conforto. É por todos nós que eles lá estão. Buzinem a caminho dos empregos, se for caso disso. Mas não mostrem indiferença porque os tempos não estão para isso.

Decidiu-se ainda

Amanhã, sexta 20 de Maio

18:00 concentração em frente ao Consulado de Espanha, na Rua do Salitre nº 1
19:00 concentração no Rossio
22:00 Assembleia entre os presentes no Rossio com tomada de várias decisões.
Depois - Acampada no Rossio (até quando, a assembleia o dirá)

O movimento será dinamizado boca a boca, por telemovel e pelas redes sociais. A ideia de reunião em frente ao consulado destina-se a mostrar solidariedade pelos protestos que neste momento decorrem em toda a espanha. Causas comuns não faltam, basta olhar para o que os move a eles agora em Espanha e o que nos moveu a nós a 12 de Março.

Apela-se a todos que apareçam. E que tragam a família e os amigos. O protesto é pacífico, intergeracional. Tragam também tendas, comida, roupa quente. E tragam a vossa experiência profissional e pessoal para ajudar a construir e dinamizar o acampamento. Talvez nas vossas empresas e locais de trabalhos vos digam que ela não serve para nada. Ali, verão que servirá. Haverá muito que fazer e tudo o que sabemos não será demais. E tragam sobretudo muita vontade de participar, discutir ideias, e ajudar levar Portugal a um desassossego pacífico mas determinado.

Sigam os blogs, twits, facebook e emails ao longo do dia para mais informações. Junto fotografias desta noite.

Divulguem! Como dizia o Fernando: É a Hora!






 





Puerta del Sol (update)

A seguir o minuto a minuto do el pais, aqui

Uma transmissão ao vivo (que talvez funcione), aqui *

e um gesto de solidariedade português (concentracao esta noite na rua do salitre), aqui *

* retirados do blog "Entre as Brumas da Memória" (vale a pena visitar).

Sobre o anonimato deste Blog

Vários motivos me levam a que não me identifique. Como sabem, as empresas e o estado podem hoje facilmente fazer web searches com a mesma facilidade que qualquer um de nós. Por exemplo, antes de contratar alguém. Sou precário e não sou rico, há que ter algum cuidado. Não é que tenha medo, apenas não quero que a minha qualidade profissional seja algum dia posta em causa pelas minhas convicções políticas. Acho que tenho direito a isso. E exerço-o.

A internet é tudo menos privada. E tem memória. Ainda estamos todos a aprender a lidar com isso. Com avanços e recusos. Eu também.

Um dia, não ponho de lado a possibilidade de dizer quem sou. Alguns já saberão, outros não. Provavelmente, não importa a ninguém. Mas também não interessa. Aqui, sou as ideias que tenho e o desassossego que sinto e o desassossego que desejo. Para mim e para os outros. Nada mais.

Rumo ao desassossego

Águas do meu país

Veio-se hoje a saber que existiu (existe?) um plano para a privatização da empresa "Águas de Portugal".

Calculo que se falará sobre as mentiras do Sócrates, do escândalo que é agora aparecer a não querer privatizar o que antes parece que já quis.

Mas essa é apenas parte do escândalo. É apenas a parte o escândalo de que é útil que se fale.

O que acima de tudo não interessa que se fale é do escândalo que é privatizar as "Águas de Portugal". O que acima de tudo não interessa que aconteça é que os cidadãos se lembrem que aquilo que vai ser privatizado é um recurso público, um recurso fundamental para todos, um recurso do qual todos dependemos, um recurso que neste momento ainda controlamos (através do escasso controlo que exercemos sobre o estado por via eleitoral) mas que, precisamente por ser fundamental, vale muito. E quando digo muito, refiro-me a muito mesmo: tanto ou mais do que os negócios da saúde, e essa já valia tanto como o tráfico de armas (ver aqui). E como vale muito existem muitos que estão dispostos a comprá-lo ao Estado (i.e., a nós!). Para o administrar, controlar o seu preço, e lucrar (muito) com ele. Tudo, claro está, a bem da nação, a bem do combate à dívida, e a bem do próprio Estado, evidentemente. Que está gordo, e endividado, e impede a iniciativa privada e etc e tal (ver aqui).

São por demais óbvios os conluios entre governantes e empresas no desbaratar de recursos nacionais. Das barragens, aos contentores de lisboa, das parcerias público privadas à recente onda de privatizações, do salvamento do BPP às garantias financeiras aos bancos fixadas no MoU. Veja-se o caso da recente legalização da alteração unilateral dos spreads fixada ontem pelo Banco de Portugal (aqui). A quem serve? aos cidadãos? não, aos bancos. Veja-se o caso da privatização dos seguros de CGD? a quem serve? aos cidadãos? não às companhias de seguros de saúde.(ver aqui e aqui).

A privatização das Águas de Portugal é apenas mais um exemplo. Mais grave, talvez, mas apenas mais um exemplo. É por demais óbvio que não existe moral. É por demais óbvio que é pura perda de tempo apelar à ética. O tempo corre a favor dos mesmos, a favor desses mesmos interesses. Depois de 5 de Junho, dir-nos-ão para esperarmos mais quatro anos. Porque temos de respeitar a vontade democrática. A bem da democracia. De uma democracia em que o estado controla cada vez menos, e consequentemente o governo controla cada vez menos, e consequentemente o nosso voto controla cada vez menos. E se protestarmos, dir-nos-ão que somos minoritários, que devemos esperar...sossegados.

Desassossego precisa-se. Antes de 5 de Junho. E já vem tarde.

Puerta del Sol (finalmente!)

Finalmente!

A Televisão Portuguesa decide-se a começar a cobrir aquilo que se passa em Espanha, vai para 4 dias! e é o que se esperava, as poucas declarações de jovens espanhóis que se ouvem acabam por dizer mais sobre a realidade portuguesa e europeia do que o sossego que se ouve aqui.

E nem têm MoU (ainda) ! vejam lá se tivessem...

Puerta del Sol (update)

Ensaiando modelos de auto-organização algumas centenas de pessoas mantiveram-se, mais uma noite e desta vez sob chuva intensa, em protesto na Puerta del Sol, km 0 de Madrid. Em várias cidades espanholas sucede o mesmo. E em várias cidades Europeias, junto das embaixadas e consulados.



Mas, ali ao lado a luta é outra. Milhares manifestam-se também. Na celebração de mais uma vitória futebolística.

Crise? qual crise? FMI? qual FMI? Austeridade? qual austeridade?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Chama-se Cristina e é espanhola. Mas podia ser portuguesa...Interviu na Rádio Pública Espanhola em nome de todos os que desejam uma mudança...as semelhanças com Portugal são notórias...


Mais uma pequena vergonha

Aqui ao lado, em Espanha, há milhares que se manifestam pacificamente há três dias...

...e as nossas televisões, rádios e jornais pouca (ou nenhuma) cobertura fazem do assunto...

É caso para perguntar porquê? não será notícia?

Seguem os protestos e acampamentos em várias praças espanholas

"En una resolución notificada esta tarde a la Delegación del Gobierno, [a junta eleitoral de Madrid] alega que no existen "causas extraordinarias y graves" que justifiquen la convocatoria urgente de la concentración y la veta por motivos electorales y por influir en el derecho de los ciudadanos a decidir libremente su voto." (no el pais)

E pelos vistos há vários milhares que acham que sim...E não só em Madrid, também em Barcelona, Sevilha, Valência...

E os espanhóis Pá?!

Há 3 dias que milhares de jovens espanhóis passam a noite nas Puertas del Sol em Madrid.




Porque é que isto não passa nas nossas notícias?

terça-feira, 17 de maio de 2011

Nem esperaram pelo 5 de Junho?!

De fontes que dificilmente pode ser consideradas radicais (de esquerda):

"Para já, o BES pede garantia do Estado para continuar a aceder à liquidez do Banco Central Europeu. E muda os seus estatutos para, no caso de não conseguir pagar ao Estado, este se tornar accionista." Pedro Santos Guerreiro (aqui)

"O Estado dá uma garantia aos bancos. No fim da vida dessas obrigações, os bancos devem pagar. Se não pagarem, paga o Estado." Fernando Ulrich (aqui)

Só lhes faltou mencionar a agravante [sim, ainda há mais!]. Essas garantias, mesmo que não venham a ser accionadas, só serão possíveis graças a um acordo que fixa uma enorme austeridade para a população e para o Estado que a serve. Um acordo que arrisca lançar o país numa espiral de recessão e endividamento e acabar cortando nos sistema social que ainda mantem a coesão deste país...

A dúvida é apenas, a) vai-se assumir a austeridade e os bancos lucram, b) vai-se assumir a austeridade e depois acabar a nacionalizar os prejuízos dos bancos? ou c) vai-se exigir a renegociação o MoU e assegurar que os artífices dessa solução têm margem de manobra limitada para a implementar?! 5 de junho sabe-se a resposta.

A ironia (e o perigo) do MoU

As medidas fixadas no MoU tornam a economia portuguesa dependente do exterior ao estabelecerem uma redução do consumo interno (via austeridade) e orientações políticas no sentido do aumento das exportações. O pagamento do empréstimo do MoU está dependente dessas exportações. Isto significa que a nossa capacidade de "cumprirmos com as nossas obrigações" está dependente da importação dos nossos bens pelos outros países, nomeadamente pelos nossos credores. Mesmo admitindo que o empréstimo é pagavel, se eles não importarem, não conseguiremos pagar. Ou seja, se algum dia quiserem apertar-nos, têm-nos na mão.

O que é ter na mão? pode passar por um "comprem lá estes submarinos"... ou um "vendam lá mais esta empresa pública"...ou um "dava-nos jeito que a TAP ficasse connosco"...

Isto faz algum sentido?!

É importante exigir (no mínimo) a renegociação do MoU. Os tempos difíceis virão de qualquer das formas e só através de um aumento do consumo interno e da produção de bens para o consumo interno poderemos realmente safar-nos disto.

Uma não-resposta preocupante II

Admitindo que esta taxa de juro já é dificilmente pagável nas actuais condições...será pagável se algum imponderável externo acontecer (veja-se o que sucedeu em finais de 2008)??!!

Um MoU que admite como natural uma quebra da procura interna, e que tem a sua execuibilidade assente essencialmente em expectativas de crescimento das exportações, é um MoU cuja viabilidade depende essencialmente dos outros, e não de nós.

É puro wishfull thinking.

Uma não-resposta preocupante I

À pergunta..."a taxa de juro fixada pela UE é demasiado elevada para Portugal?", economistas e políticos tranquilizam-nos geralmente com um "é uma taxa alta mas semelhante à taxa inicialmente fixada da Grécia e da Irlanda".

Esta não-resposta, considerada conjuntamente com os resultados que a política de austeridade destes empréstimos tem gerado nesses outros dois países, é preocupante.

É que se a taxa é demasiado elevada e não a vamos conseguir pagar e daqui a uns meses vamos ter de restruturar a dívida então o melhor é começar a pensar já em negociar uma taxa mais baixa que a consigamos pagar para que daqui a uns meses não tenhamos de restruturar a dívida!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Haja esperança

Na importância de simples, mas muito significativos, actos de desobediência civil.

Esta noite o movimento "É o povo, pá!" realizou um


O manifesto está disponível aqui

A gordura do Estado

Ouve-se hoje falar muito na necessidade de cortar as gorduras do Estado. Em particular, este assunto parece tirar do sério o Sr. Catroga, levando-o a um estado de exaltação que se aproxima da demência. A última coisa que o Estado precisa é de um anorético a dirigi-lo. Um nutricionista e um preparador físico fariam melhor serviço.

domingo, 15 de maio de 2011

Palavras para quê...

A ouvir com atenção.

Daniel Cohn-Bendit dos Verdes Europeus sobre a ajuda a Grécia. É de perguntar porque é que este tipo de declarações não passa nas nossas TVs. E se os nossos Eurodeputados estarão a ser igualmente convincentes na defesa dos interesses nacionais (o olhar de Paulo Rangel (PSD), que assistiu a isto, deixa muito pouco a desejar...)

Faltou apenas referir que foi durante o governo de Durão Barroso e Paulo Portas que em Portugal foram comprados, de forma muito estranha, 2 submarinos que agora acrescem à dívida que temos de pagar...Grécia e Portugal, serão assim tão diferentes?

Os Lemmings e o MoU

A nossa actual crise tem tudo a ver com este jogo (jogo dos Lemmings online aqui).

Somos um pouco como eles. Criaturas que caminhamos como loucas, em fila indiana, para o alçapão da crise. Sem pensar diferente, entretidos nas questões diárias, fingindo acreditar cegamente em quem nos lidera. Por pura preguiça mental. E falta de coragem de correr riscos.

Quem costumava jogar a este jogo sabe bem que se não se parasse para pensar um pouco e se não se tivesse a coragem de pensar diferente e fazer alguns sacrifícios no final sobrava apenas a opção de um belo fogo de artifício. :)

O que a educação na Finlândia tem a ver com a crise em Portugal

Há 2 anos a BBC fez uma interessante reportagem sobre o sistema de educação Finlandês (podem ouvi-la aqui). Essa reportagem ocorreu-me há dias ao ler uma entrevista sobre assunto semelhante no público (podem lê-la aqui). O que me desperta atenção não é o tema da Educação em si (importante que ele seja), mas o sentido de rumo nacional e o sentimento de coragem que lhe estão subjacentes. Acho que são algo que devemos ponderar no nosso país. Especialmente na altura de escolhas difíceis que enfrentamos.

Em resumo: ao contrário do resto do mundo, os Finlandeses só aprendem a ler aos 7 anos. Também não parecem ter problemas em ter as escolas todas iguais e estandardizadas. Há razões bem fundamentadas para isso. Mas é notória a estupefacção do jornalista da BBC (e minha) ao ouvir pela primeira vez estes factos. Significativa é também a resposta da representante do Governo Finlandês à questão se "não achava estranho que no resto do mundo se aprendesse a ler cada vez mais cedo e na Finlândia mais tarde?". A resposta dela foi simples. "Sim é estranho, mas nós estamos certos". De facto, a Finlândia decidiu, contra as teorias dominantes no resto do mundo, que havia de ter as escolas todas iguais e de ensinar os seus miúdos a ler mais tarde. Não sei se houve muita contestação dos pais a esta opção ou não - que quanto a mim terá arriscado a educação de toda uma geração - mas o certo é que teve a coragem e confiança de ser diferente, de inovar. E tem hoje um país cuja educação é consistentemente elogiada por todos e surge no topo da tabela dos PISA.

Em Portugal, fala-se muito de inovação. Mas será que verdadeiramente inovamos? Será que temos a mesma coragem de inovar? Ou fazemos apenas uns embelezamentos no caminho que outros traçaram?

Note-se o acordo com a troika (MoU). Sabemos da experiência grega e irlandesa o que vai causar, mas submetemo-nos a ele. Mas paremos um pouco para pensar. E se o que realmente Portugal precisasse de algo diferente? Será que não existem outras políticas mais adaptadas às nossas especificidades e que resolvam melhor a nossa situação? Onde está a coragem, o enfrentar riscos, e a inovação? Sinceramente, não percebo. Se do CDS-PP ao PS todos sabem que o MoU é péssimo porque é que o sentimento dominante é que devemos aceitá-lo como inevitável e cumpri-lo à risca? Porque é que não existe nos políticos, e sobretudo em nós eleitores, a coragem e a independência dos Finlandeses? Não é apenas uma questão de dinheiro, é uma questão de vontade.

sábado, 14 de maio de 2011

O inolvidável Sr. Krugman

Por muito que os líderes do PS, PSD e CDS-PP e a maior parte dos economistas e empresários que falam nos orgãos de comunicação social afirmem que “ou aceitamos a austeridade que vem do empréstimo da troika ou o caos” há uma coisa que eles não podem negar:

Que existe um Sr. Economista, que por acaso até é Prémio Nobel, que não concorda. E que defende a pés juntos à vários meses que não é com austeridade que se vai lá, muito pelo contrário.

Podem ler um artigo escrito no NY Times na altura em que nosso governo caiu: aqui

Ou optar por este escrito esta semana: aqui onde ele defende que no mínimo deverá haver uma restruturação da dívida grega.

E agora? será que a opinião dele não é credível? por amor de deus...

Renegociação do MoU é possível

Nas próximas eleições a discussão parece centrar-se entre aqueles que defendem a implementação do MoU (dentro das limitações cegas e severas que ele define) e os que são contra a implementação do MoU (defendendo uma restruturação da dívida). Os primeiros lutam contra os segundos argumentando que se não aceitarmos o MoU não haverá dinheiro para os salários e pensões de Junho. Os segundos lutam contra os primeiros argumentando que as políticas previstas no MoU vão essas sim conduzir a economia e sociedade ao descalabro. No meio disto, confesso que concordo com mais estes últimos. Mas não completamente. Acredito que é possível fazer a ponte.

Tendo em conta os resultados que a política de austeridade dos MoU assinados pela Irlanda e pela Grécia está a dar (veja-se aqui),  as opiniões expressas por alguns economistas de valor contra a austeridade do MoU (veja-se o Prémio Nobel), mas tomando por certas as necessidades imediatas de financiamento do nosso estado (veja-se aqui), parece-me que a uma solução para esta crise poderá passar por...uma votação à esquerda que fracture o PS e empreste a força que a sua ala esquerda precisa para substituir o Eng. Sócrates e admitir a realização de uma auditoria à dívida do estado. Esta auditoria é fundamental para que se perceba o que de facto devemos, a quem e porquê, podendo inclusive permitir descartar dívidas que tenham sido contraídas de forma irregular, i.e., por vias de corrupção ou de medidas tomadas sem a vontade dos cidadãos (veja-se a importancia que isso tem aqui). Por fim, é de esperar que um correcto uso da margem de manobra trazida por essa auditoria e pelo brandir da ameaça de "restruturação da dívida", permitisse obter um financiamento de curto prazo do FMI e UE em condições favoráveis e flexíveis. No fundo, um financiamento que nos desse a margem de manobra para com novos políticos procurarmos soluções novas para a redução da dívida. Soluções longe dos erros que o MoU consagra. Mas que só são possíveis após uma ruptura do PS com as políticas dos útimos anos, isto é, quando sob a pressão de uma esquerda em ascensão as suas bases resolverem afastar o Eng. Sócrates e a sua geração.

Aos que duvidam que a restruturação da dívida seja uma arma que possa ser brandida, lembro que não é de todo indiferente ao FMI e à UE que paguemos as nossas dívidas ou não. Muito pelo contrário: Deixando de fora outras consequências para o projecto europeu, é fundamental para eles que paguemos porque as nossas dívidas elas estão na posse (ou seguradas) por grandes bancos europeus e só terão valor no mercado financeiro enquanto se pensar que nós as pudemos pagar. Se se pensar que não podemos pagar, caput, ficam com elas como os bancos ficam com as casas, com a diferença que no caso das casas ainda há quem queira e no caso das dívidas quem fica com elas por último lixa-se. 

É por isso que nos vão emprestar dinheiro, para que suportemos essas dívidas. O problema é que querem que o façamos à custa de um esquema de reciclagem financeira absurda acoplado a um plano de austeridade brutal no qual é quase impossível não nos irmos afundando cada vez mais. Por isso é tão fundamental que nos recusemos a aceitar políticas que sabemos nos irem afundar. Ainda que devamos estar conscientes de que pelo menos algum financiamento de curto prazo tem de ser alcançado para as necessidades imediatas. Isto porque com a corda na garganta (mais do que levemente apertada) e a população com fome nas ruas tornar-se-à difícil pensar em soluções. E já nem falo em implementá-las.

Taxa Social Única

Ontem, no debate, líderes do CDS-PP e PSD discutiram algumas medidas do seu programa de governo (honra lhes seja feita). Pena foi que fosse apenas no enquadramento que lhes é dado pelo MoU e que continuem a tomar este documento como facto consumado em toda a sua discussão (independentemente de poder ou não consagrar medidas erradas). Uma das medidas discutidas foi a redução da Taxa Social Única das empresas. Para quem não sabe a Taxa Social Única actual é de 34.75%, sendo 11% deles pagos pelo trabalhador e 23.75% deles pagos pelas empresas. O que está a ser debatido é a redução da componente de taxa que recai sobre as empresas (a dos trabalhadores não foi falada, presumivelmente por não ser do acordo da troika).

Deixemos de lado a opinião de Paulo Portas cuja posição ao estilo "é preciso ir com cautela" e "não devemos comprometer-nos com coisas que poderemos não poder cumprir" não é mais do que um pedido de "cheque em branco" ao eleitorado. No fundo, uma maneira de não-dizer disfarçada de ponderação e cautela.

No que respeita ao PSD o seu programa é de difícil consulta, não se compreendendo, por exemplo, a ausência de um mecanismo de busca numa altura em que as novas tecnologias estão tão avançadas…Do que li, o que ele prevê é que seja efectuada uma redução da Taxa Social Única para as "empresas exportadoras ou que evitam importações" (página 12) "até 4 p.p., ao longo da legislatura" (página 14). Podem consultar aqui.

A questão de como é que se distinguem estas empresas e quais as empresas que ficariam de fora é por si só relevante. Mas ameaça distrair do fundamental: quais os impactos que a dita redução trará. O PSD considera-a uma "política fiscal de curto prazo ou de emergência" (página 12) e uma medida de "redução dos custos de produção para as empresas" (página 14), sem quantificar os benefícios. E, de facto, ao que parece poucos existem além de se agradar cegamente à troika. De facto, com o consumo privado em redução e o IVA a subir, as empresas atravessarão diminuições nos lucros. A tendência dos empregadores será, como é em qualquer pessoa, manter os seus rendimentos e o seu nível de vida (seja ele o seu – nas pequenas e médias empresas – ou o dos seus accionistas – nas grandes empresas). Para que esses rendimentos se mantenham, os lucros têm de se manter, ou seja, os montantes poupados na Taxa Social Única vão suprir o buraco nos lucros e acabar por contribuir muito pouco (ou mesmo nada) para espevitar o investimento. E muito menos para criar emprego.

Nada disto teria problema de maior (já houve muitas políticas em Portugal que contribuirão muito pouco ou nada) se não fosse certo que ao implementar essa redução se tirará 4% de financiamento à Segurança Social, não se criará emprego e se privará o Estado de uma parte da capacidade financeira que usa actualmente para assegurar medidas de protecção social, por exemplo, aos desempregados. Conclusão? Uma progressiva descapitalização (=destruição) do sistema de segurança social que, sendo cada vez mais incapaz de acudir a todos, acudirá cada vez mais apenas aos "muito pobres", deixando de fora os que são apenas "pobres". Por muita demagogia que se use, é fácil demonstrar que esse "acudir aos muito pobres" será uma consequência de uma política errada e não a consequência da opção política que os líderes do PSD e CDS-PP tanto alardeiam.

É mesmo isto que se quer? O que fazer? Do mal o menos, se quiserem mesmo reduzir a taxa social única pelo menos não descapitalizem o sistema de segurança social. Tenham a coragem de transferir os 4% das empresas para os trabalhadores e enfrentem a contestação nas ruas que daí advirá (irónico). Mas, por certo melhor, era escreverem aos Srs. da troika e dizer-lhes que não aceitam essa imposição, oferecendo alternativas orientadas para o emprego. Que alternativas?não mexerem dessa forma na Taxa Social Única nem no IVA, darem créditos fiscais às empresas que contratam desempregados de longa duração, e cruzarem os dedos para que o aumento do consumo interno acabe por estimular a economia). Whishful thinking por wishfull thinking pelo menos não nos metem num buraco nem arrebentam o Sistema de Segurança Social que levou tantos anos a construir.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

DebOcracy

Longo? Sim, mas um filme a não perder (ver aqui com legendas em inglês). A não perder por aqueles que não temem informar-se. A não perder por aqueles que não temem ouvir uma visão diferente. A não perder por aqueles que estão dispostos a desassossegar-se. Mais não seja para não considerarem apenas a opinião veiculada nos nossos média. E porque quem tem duas ideias na cabeça, desassossegado que esteja por não conseguir decidir-se entre elas, é apesar de tudo mais livre.

Outra pequena vergonha

A não perder a entrevista na Antena 1 ao presidente da Autoridade Nacional para as Comunicações (ANACOM) (ouvir aqui). Esta entrevista, a propósito da transição da rede de televisão analógica para a rede televisão digital, consagra muito do que está profundamente errado neste país e é urgente mudar nas próximas eleições.

Por um lado, um Instituto Público - sim a ANACOM é um instituto público - que é responsável pela implementação unilateral de uma alteração desnecessária e que afecta quase toda a população. Mas es mucho mas grave. Essa alteração não é gratuita: trás acoplada a necessidade de compra de 1 milhão e meio de televisões, descodificadores ou contratos por cabo. Consagra por isso um gigantesco bónus legislativo do Estado ao sector privado (o mesmo que sempre o critica como despesista). Mas…esperem que isto continua…O bónus não é apenas legislativo…para atenuar as dificuldades dos mais pobres em comprar os ditos descodificadores, o estado vai dar-lhes cerca de 20€ de comparticipação. Seria óptimo se lhes desse, mas na realidade dá-lhes para comprarem, isto é, passa 22 €/pobre para os privados. O Estado está para todos os efeitos a transferir dinheiro dos impostos para o sector privado (repito, o mesmo sector que sempre afirma que o estado é despesista), usando como pretexto uma medida que praticamente ninguém (e de certeza que não os mais pobres) acha necessária…É um verdadeiro escandalo e gostava de saber qual o montante envolvido porque existem por certo formas melhores, mais eficazes e sobretudo mais transparentes de financiar a economia.

Não será legítimo perguntar…se são os privados que lucram com os ditos descodificadores, televisões e contratos de TV por cabo, porque é que não são eles que dão um desconto aos mais necessitados? Talvez até oferencendo-lhes os ditos descodificadores ou TVs com base nos lucros que alcançam dos aparelhos, descodificadores e contratos dos cidadãos mais ricos? Onde é que anda o altruísmo do sector privado nestas alturas (relembro, o mesmo que critica o estado como despesista)?

Dito isto, nem sequer falei da completa insensibilidade social que Eduardo Cardadeiro que roça em muita a de Diogo Leite ao afirmar que 20-30€ não é razão para que pessoas com menos de 500€ de rendimento não comprem um descodificador. Ou ao pretensamente ignorar que a qualidade dos descodificadores é a mesma ao longo da sua gama de preços (dos 40 aos 200€). Enfim, muito mais haveria que se dissesse mas fazê-lo era distrair do essencial. De facto, dizê-lo ou não, pouco interessa. Porque o grave é a falta de transparência e a desfaçatez com que esta questão está a ser tratada e o assalto que determinados gestores públicos e o sector privado fazem aos contribuintes a pretexto de uma modernidade que poucos desejam (pelo menos desta forma).

Sobre as entidades reguladoras

O CDS-PP tem defendido, habilmente diga-se, que antes de privatizar é preciso criar e dar força às entidades reguladoras. Exemplo disto são as declarações de Pires de Lima no Prós e Contras da semana passada. Concordo com eles. Se se tiver de privatizar o mínimo que se deve fazer é criar entidades que fiscalizam com mão de ferro a actuação das empresas nos mercados e assegurem uma efectiva e independente concorrência.

Mas, será que é realmente possível ao poder político criár e implementar estas entidades? A experiência passada em Portugal mostra que não. De facto, em sectores em que há muito lucro para distribuir, o sector privado não parece admitir regulação. Muito pelo contrário. Nos sectores mais lucrativos, o sector privado insiste sempre que é necessário libertarem-no e deixarem-no crescer e expandir-se. Este “deixar crescer e expandir” tem várias formas de se expressar, mas geralmente resulta numa forte pressão mediática sobre as populações e os governos no sentido de os convencer que o excesso de regulação está a impedir o desenvolvimento económico. Esta pressão é traduzida em noticias e entrevistas na comunicação social nas quais altos cargos empresariais emitem apelos desesperados ao estilo de um “deixem-nos trabalhar” e de um “deixem-nos criar emprego” explicitando o raciocínio simples de que “é preciso desregular o mercado para deixar que concorrência actue”. Esperem, disse bem?! Então na altura das privatizações afirma-se que era preciso regular para que a concorrência actuasse e os direitos dos cidadãos fossem assegurados e depois afirma-se que é preciso desregulamentar para que a concorrência actue e se proteja os interesses dos cidadãos?!

Ao contrário do que pode parecer, este não é um problema sem saída. A solução é não privatizar e arranjar um governo competente. Só assim poderemos votar no tipo de intervenção estatal que queremos. E, facto é, que se houver uma empresa do estado no mercado, se o governo o entender, pode usá-la, de forma competente, para fazer concorrência ao privado e forçar a uma pequena redução dos seus lucros. Assim sim, regulamentando.

Dito isto, talvez o CDS-PP pretenda fazer-nos querer que com ele será tudo diferente, que um seu governo trará pela primeira vez as provatizações acompanhadas de uma regulação forte e segura que assegurará a livre concorrência. Mas o mais certo, pela história passada do mesmo (fortemente liberal e conotada com o mundo empresarial) é que não seja assim por muito tempo. O mais certo é que esse atenuar das privatizações com promessas de forte regulamentação seja parte de wishfull thinking eleitoral, destinado unicamente a estabelecer a ponte entre o liberalismo que o CDS-PP defende e os eleitores insatisfeitos com os abusos desse mesmo liberalismo.

Uma pequena vergonha...

...As declarações de Diogo Leite, há uns tempos na SIC.


A insensibilidade deste vice-presidente do PSD aos problemas sociais fica patente. É mesmo este tipo de pessoas, ou quem as escolheu para a sua vice-presidência que queremos a governar Portugal?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Três tristes figuras

Uma triste figura foi o que fizeram os representantes dos três partidos representados no Prós e Contras. Mesmo depois de enxovalhados pelas repetitivas perguntas da jornalista e pelas declarações de dois elementos do público, Pedro Silva Pereira (PS), Eduardo Catroga (PSD) e António Pires de Lima (CDS-PP) insistiram em não falar das suas propostas de governo nem das dificuldades que os seus programas eleitorais e a implementação do MoU causarão a Portugal. A falta de noção da realidade (e pior ainda, a falta de noção do ridículo e do desfasamento em relação à sociedade) foi assustadora e nada augura nada de bom em relação à próxima campanha e, pior, aos próximos anos. Numa altura em que há quem se ofenda por alguns países da Europa não nos quererem dar "um cheque em branco", não deixa de ser uma vergonha que os três partidos da troika pretendam passar pela campanha eleitoral como "cães em vinha vindimada" esperando que três ou quatro soundbites e muita lavagem de roupa suja lhes poupem à dificuldade de ter explicar à populaça as dificuldades que lhes pretendem trazer.

Compreendo. No fundo estão habituados a distribuir benesses e agora não podem. Mas é grave. É grave que se decidam pela ausência de debate. Muito grave mesmo. Para o prestígio das instituições. E para a democracia.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

MoU

O título diz tudo "Memorandum of Understanding (MoU)". Traduzido para português como "Memorando de entendimento". Escrito em Inglês pode ser encontrado nos sites de alguns jornais. Esperem! Será que eu disse bem? "Escrito em Inglês"?! - sim, curiosamente não encontrei uma versão portuguesa. Porque será? a minha melhor hipótese é que não interessa maximizar o debate do seu conteúdo. E "nos sites dos jornais"?! - sim, curiosamente, nesta situação o governo, os partidos, e o presidente da república - tão hábeis no uso das novas tecnologias - preferiram não correr a divulgá-lo nos seus sites. Porque será? a minha melhor hipótese é que querem minimizar qualquer conotação sua com ele.

Tudo isto, acrescentado à negação do debate das suas medidas a que se assistiu ontem - as mesmas que já se comprometeram a implementar se forem governo - faz um panorama assustador. Será mesmo possível a troika PS, PSD e CDS pretenda passar ilesa, carregada aos ombros de telenovelas políticas, publicidade e mediatismo, através deste percalço chamado eleições? Ou talvez não tenha sido um percalço...é cada vez mais claro que as próximas eleições são necessárias para resolver as suas querelas (e querelas entre os respectivos blocos económicos), para poderem dizer ao povo faminto que as medidas de austeridade têm a "legitimidade democrática", e sobretudo para arranjar uma maneira de assegurar (a si, aos interesses económicos e financeiros, a Bruxelas e ao FMI) que não será necessário correr o risco de consultar de novo o povo a meio do processo. Visto assim, BE e PCP caíram numa bela esparrela (mas também não vejo como poderia ter sido de outra forma). Única forma de sair disto? não votar nos partidos da troika. No mínimo, trará a vantagem de trazer ao parlamento a pluralidade necessária ao respeito pelo processo democrático.

domingo, 8 de maio de 2011

O blog do desassossego

Desassossegado como tenho andado decido-me a fazer algo. Na esperança de desassossegar outros. Afinal, desassossego precisa-se. Hoje, talvez mais do que nunca. Porque não faz sentido estar sossegadamente em crise, sossegamente pobre, sossegadamente derrotado. Nem sequer faz sentido estar sossegadamente sossegado. Há sim, que dar largas ao desassossego. Há sim, que dar vida ao desassossego. Há sim, que deixar florescer o sentimento que acabará por nos obrigar a mudar.