domingo, 5 de junho de 2011

Os tempos em que 1 minuto chegava, infelizmente, acabaram...

Não vale a pena entrar em pormenores sobre a carga policial de ontem. A forma inusitada e desproporcionada como ocorreu - quando nada de semelhante se passou em 12 dias de efectiva ocupação do espaço público do Rossio - deixa claro que também ela "é apenas o início". O início e ensaio da repressão policial a que se assistirá ao longo dos próximos anos.

Não me surpreende que os nossos governantes e corpos policiais tenham tomado essa atitude. Acho até tremendamente natural que marquem o início e ensaiem a sua estratégia ainda antes das eleições. Afinal, se eu estivesse a ponto de fazer precipitar este país na situação de incumprimento financeiro generalizado e de rebeliões violentas a que se assiste diariamente na Grécia, também eu ensaiaria, também eu marcaria um início, também eu não esperaria pelo dia seguinte às eleições para começar a mostrar quem manda, para começar a calar quem debatesse e questionasse as minhas opções. Haveria demasiadas coisas importantes em jogo. Não prever, não antecipar, não cortar o mal pela raiz seria um erro estúpido. Um erro estúpido que se pagaria caro.

Da mesma forma, fosse eu uma agência internacional prestes a emprestar dinheiro a um país e também eu tomaria medidas para que o(s) governante(s) desse país me fossem leais.  Também eu recorreria a todas as soluções necessárias para assegurar que existiria no país um pulso firme que cumprisse escrupulosamente as condições que eu fixasse. Também eu não permitiria que os governantes fossem quaisquer uns e muito menos que eles pensassem em formas alternativas de financiamento. E sobretudo também eu ficaria tremendamente irritado e impaciente se houvesse pequenos actos de desobediência civil que me questionassem e pusessem a nú as minhas intenções. Também eu não permitiria. E também eu exigiria que fosse posto termo a isto. E rápido. São muitos milhões em jogo, não admitiria erros estúpidos. Quando milhões estão em jogo, é importante que todos percebam que a democracia é um luxo. Faça-se isso com uso da força ou com falinhas mansas, não interessa. O importante é que seja eficaz e que todos aceitem, não questionem e se submetam.

Mas não sou. Não sou como eles. E é por isso que esta tarde, às 20:00, não vou ficar a ver a televisão deles, nem a assistir aos seus jogos e teatros políticos na televisão, nem preocupar-me com quem ganha ou com quem perde. Porque quem perde na realidade sou eu, somos nós, e não são eles.

É por isso que esta tarde vou até ao Rossio onde, juntamente com as restantes pessoas que têm insistido em trazer o debate popular àquela e às outras praças, cumprirei 3 minutos de silêncio. 3 minutos, um por cada membro da troika, um por cada jovem detido ontem. 3 minutos, porque 1 minuto não chega. Os tempos em que 1 minuto chegava, infelizmente, acabaram...

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